sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Saber amar é primeiro saber se amar!

E 2016 chegou.... Achei que, por uma passe de mágica, eu teria de volta tudo aquilo que eu mais prezava antes de ter filhos. Eu juro que a meia noite eu fechei os olhos e pedi a Deus, a Buda, aos orixás para que algumas coisas que eram tão lindas, delicadas e belas voltassem, assim como em um filme, quando a gente assim como o personagem principal deseja tanto, mais tanto aquilo que uma fada (não a dos dentes, pelo amor de Deus!) faz você voltar ao tempo, exatamente quando eramos só você e eu. Eu queria reviver esses momentos nem que fossem por alguns milésimos de segundos. Eu queria poder te dar as mãos e andar por aí, eu queria tomar café da manhã na cama que você trazia todas as manhãs e junto sempre tinha uma florzinha que você colhia quando levava a Preta para passear.
Eu queria  que aquelas risadas nossas, tão altas e escandalosas viessem como um canto gregoriano, que envolvesse o mundo e todas as pessoas ao redor. Eu queria poder comer bolo de madrugada, pão fresquinho que você fazia na máquina de pão, eu queria poder ter a Glorinha de novo na minha barriga para que você a beijasse, falasse com a gente, nos fizesse rir, nos amasse, NOS AMASSE assim como era, assim como sempre foi....

Eu queria realmente poder retornar alguns momentos.... Reencontrar-te  naquele aeroporto em Frankfurt há quase 20 anos, aqueles seus olhos azuis brilhando, suas bochechas vermelhas, sua felicidade em me ver. Lá estava eu: única. Éramos só nós dois, prontos para nos adentrar pela Europa. Eu com 18 anos, uma menina (sim, naquela época eu era uma menina) que nunca tinha saído de casa, mas que fez o possível e o impossível para convencer a vó que eu não poderia mais suportar a distância que tínhamos, a tal da distância geográfica (mal sabia eu que a pior distância não é a geográfica, mas sim aquela de quando se está perto, mas longe do coração).
Mas não foi nada assim...
Nunca mais será assim....

Tem gente que não tem nada, mas tem outras coisas, tem gente que consegue se teletransportar ao passado e conquistar um futuro.
Eu não consegui, eu não consigo porque levar uma maternidade sozinha é foda, é difícil. São meses sozinha passando por processos de exaustão mental e física que nunca nenhum homem (e nem aqueles que escrevem que são super parceiros e fazem de tudo pelos filhos- menos amamentar porque não podem...e eu rio dessa palhaçada!). São meses sem saber se terei que correr de madrugada para algum hospital, a solidão que bate fundo, as noites vendo televisão sozinha.... são meses que estamos juntos via skype, via whatsap todos os dias quando te envio fotos, filmes, quando te envio a vida dos nossos filhos documentada em cada pequeno sinal de primeiros passos, o primeiro cocô duro, a primeira febre, a primeira injeção, a primeira.... todas as primeiras coisas.... e então você chega, e cadê eu, cadê nós? Onde está a gratidão por uma vida de renúncias em prol de nossos filhos?
Que coragem, pensarão, você tem de expor isso tudo.
Sim, amigas, que coragem de expor que somos seres-humanos e que merecemos ser felizes mesmo depois dos filhos, que filhos mudam tudo, colocam tudo de cabeça para baixo, que tem maridos que levam a paternidade a tal ponto, a tal extremo que se esquecem completamente que são maridos, que tem esposas, que se esquecem de todo o sofrimento passado para trazer dois bebês ao mundo. Esquecem-se das dores que passei, dos dias de trabalho de parto, da ocitocina, de levar uma segunda gravidez praticamente sozinha cuidando de casa, da Glorinha , da idas ao médico, do supermercado, das roupas.... eu lutando aqui e você lá....
Essa tem sido a minha experiência e que coragem eu tenho de assumir que está tudo uma grande @#$# e que por essa razão, chegando perto dos 40 anos, eu preciso me inventar toda. E acreditem: eu não tenho medo nenhum.
Pode ser que ocorra um milagre, pode ser que eu feche os olhos hoje e uma prece minha , um pedido meu chegue aos ouvidos do Papai Noel, do Coelhinho da Páscoa e pronto: a gente consiga se ver, se tocar, se amar...
Se assim tiver que ser.... porque eu não tenho mais medo da solidão, eu não vivo de aparência, eu não preciso de muito, eu vou atrás, eu vou conseguir. eu não vou vestir aquela camisola sexy e me perfumar para te fazer feliz na cama.... Não! eu não serei a esposa boazinha e bendita que tantos homens esperam, eu não vou calar a minha boca para que você possa ser o senhor do castelo. Eu não serei grata por tudo o que você fez por mim porque eu também fiz, eu já paguei as minhas contas, estão liquidadas. Eu decidi isso!
Sempre foi assim e sempre será.
Sempre será assim!
Leu isso, Gloria?
Tudo isso para você entender que amar é bom, ser amada também, mas se amar é muito, muito mais crucial.