Essa é a história da Dani Morgado, mais uma dessas amigas maravilhosas que o acaso nos traz, graças a Deus. Dani mostra a importância da preparação em relação a amamentação. Acredito que não só em relação a amamentação, mas as mulheres devem ler muito a respeito de parto, dos mitos que muitos médicos colocam ao parto normal, dos procedimentos desnecessários realizados no bebê quando nascem (leia mais AQUI).
Mais do que isso, Dani, traz uma história de EMPODERAMENTO. O corpo dela, as regras dela, ir atrás do que se quer, lutar por isso dentro do limite de cada um.
Parabéns, Dani e obrigada por compartilhar essa linda história.
Não me venha falar da malícia de toda mulher
Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é
Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é
(Dom de Iludir- Caetano Veloso)
Relato de amamentação:
Sempre sonhei em ser mãe e consequentemente amamentar o meu bebê. Hoje penso que
amamentar vai além de nutrir o seu filho. É muito mais que seios repletos de
leite, de vitaminas e nutrientes. Amamentar é entrega, é doação, é amor
incondicional. Quando estava grávida não me preparei. Acreditava que quando a
Maelle nascesse, eu a colocaria confortavelmente em meus braços, aproximaria a
boquinha dela do meu seio, que transbordaria leite e ela mamaria. Logo que ela
nasceu, a enfermeira obstétrica a colocou no meu seio. Não tinha leite
obviamente, mas ela ficou ali. Fui para o quarto e algum tempo depois ela
chegou. Mais uma vez ela veio para o meu seio e assim foi na maternidade. A
cada mamada a enfermeira vinha para me auxiliar com a pega. Com as mamadas
iniciais, comecei a sentir dor nos seios. Falei com algumas pessoas e elas
diziam: “normal sentir dor, vai passar. Só observe se a pega está correta e
tudo ok”.
O meu leite desceu após alguns
dias. Estava feliz com aquela sensação de seios cheios de leite, tudo daria
certo. Eu tirava fotos e mais fotos amamentando. Sentia dor sim mas pensava vai
passar. Após uma semana do seu nascimento fomos ao pediatra, que a pesou. Ela ganhou
peso, excelente! Lembro-me de perguntar para a pediatra sobre a dor que sentia
e ela falou “vai passar, ela ganhou peso, fique tranquila. Se quiser, compre
essa pomada, vai te ajudar”! Lembro perfeitamente de passar na farmácia e
comprar a pomada que vinha na menor embalagem possível com o maior preço
existente. Tudo bem, se for para ajudar, vamos lá. Porém lembro-me das pessoas
dizendo “seu peito precisa calejar, aguente essa dor”!.
Quando ela chorava de fome, eu
chorava de dor. Foi então que eu quis consultar uma especialista em
amamentação. Precisava saber se a pega estava certa, se tinha algo de errado. A
dor não passava. Bicos rachados, até sangue a minha filha mamou. Ela me ouviu,
me abraçou e falou “vamos amamentá-la?”. Eu disse sim, mas queria dizer não,
pois sabia a dor que sentiria. Ela observou a pega e estava tudo ok. Ela
verificou a sucção da Maelle e era perfeita. Ela foi vários dias em casa,
passava horas conosco. O desafio dela não era somente de ajudar com a dor que
sentia, mas também em fazer a Maelle pegar os dois seios. Ela tinha preferencia
por um e rejeitava o outro. Para “ajudar”, tive mastite nessa época. Lembro
perfeitamente de ir ao banco de leite com os meus seios enormes e rígidos. A
atendente pegou a super máquina de extrair leite para esvaziar as mamas. Mais
dor, mais lágrimas. Não aguentei a dor e ficamos tirando o leite na mão. Meu
Deus, como eu iria seguir firme. Eu queria amamentar. A minha mãe conseguiu, as
minhas avós também. O que eu tinha de errado? O meu marido dizia “tudo bem se
você quiser desistir, compramos LA, você não precisa passar por isso!”. Foi
então que eu decidi dar um tempo. Eu pensei “se eu parar alguns dias de
amamentar, darei aos meus bicos a chance de cicatrizarem e então eu volto”!.
Foi então que uma amiga emprestou uma bomba de extrair leite. Maelle tinha 30
dias nessa época. Eu passava o dia tirando leite. Ficava feliz, os seios
produziam leite e estava nutrindo a minha filha. Quando chegava a hora dela
mamar, já tinha leite separado. Alguém oferecia para ela na mamadeira enquanto
eu extraía. Foram dias e mais dias assim. Nem sempre eu tinha alguém para me
ajudar, algumas vezes eu dava o leite que tinha extraído, fazia arrotar e
dormir, e então extraía o leite da próxima mamada. Não queria que o meu corpo
deixasse de produzir leite. Com uns 45 dias, eu a coloquei no peito. Era começo
da noite e resolvi tentar, ver se a sensibilidade havia diminuído. Ilusão mais
uma vez. Dor e mais dor. Eu a amamentei chorando e quando acabei, eu a
entreguei para o meu marido e fui chorar longe deles. Sentia que devia desistir
e me render ao LA. Eu só pensava “você tentou, encare a realidade! Continue a
extrair o leite até secar”. Um dia o meu leite secaria e então eu daria LA. Quando
ela estava prestes a completar 2 meses, meu leite começou a diminuir. Entrei em
desespero. Sabia que a sucção do bebê era o verdadeiro estímulo para a produção
de leite. Foi então que resolvi mais uma vez consultar outra especialista. Lá
fomos nós para o consultório dela. Expliquei tudo, chorei, desabafei. Ela me
acolheu com tanto amor. Mais uma vez ouvi que não tinha nada de errado, pega
correta, lábios de peixinho do bebê, tudo perfeito. O marido dela é dentista, analisou
a língua da Maelle e constatou que não tinha nada de errado. Foi então que ela
me disse “Dani essa dor que você sente é muito mais psicológica que real. Ela
existe sim, porém se você enfrentá-la de verdade, vai passar!”. Nessa época o
seio esquerdo já produzia menos leite que o direito e ela me disse para
oferecer sempre o esquerdo que ela aprenderia a mamar nele.
Voltei para casa
determinada a conseguir. Entrei no meu quarto com a Maelle, tirei a minha blusa
e deixei a Maelle sem nada também. Ali queria ser índia, pele com pele. Com
todo o meu amor e força, eu a coloquei no peito. Segui então o conselho da
consultora “imagine vocês dentro de uma bolha, sinta o amor que as une, inspire
essa ligação mágica de mãe e filha, se concentre nisso e sua dor irá embora”.
Se eu disser que nessa mamada deixei de sentir dor estarei mentindo. No entanto
lembro perfeitamente daquela tarde de sol, Maelle e eu conectadas. Resolvi que
ia lutar mais uma vez. Assim com o passar dos dias, a cada mamada, eu mentaliza
nós duas nessa bolha. Não sei ao certo quando parei de sentir dor, só sei que
daquele dia em diante eu só voltei a usar a bomba de extrair leite quando a
minha licença a maternidade acabou. Maelle nunca pegou de verdade o meu seio
esquerdo e depois de um tempo, eu desisti. Eu me sinto tão plena e realizada ao
amamentá-la que nunca me importei de ser um “mono-tetê”. Nunca me arrependi dessa escolha de amamentar
com um único seio. Quando ela desmamar, eu penso no que farei. O que realmente me
importa é a satisfação de poder oferecer a Maelle todo o meu amor líquido ao
longo desses meses. Agora que ela é maior, eu mostro o outro seio. Se eu
apertar, sai leite. Ela já colocou a boca, dá risada, mas logo agarra o outro e
mama feliz da vida. Foram 6 meses de amamentação exclusiva e são quase 15 meses
de amamentação prolongada.
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