Então, chega um dia que você acorda. Você acorda e está
calor, muito calor. Não dá para usar calça jeans mais, não dá.
Você acorda e percebe que depois de duas gravidezes você
está acima do peso e não está feliz. Um filho atrás do outro, nunca fui atleta,
o corpo demora cada vez mais para voltar ao normal. E você está perto dos 40
anos. Uma somatória nada, nada agradável e que faz mal para minha saúde.
Soma-se a isso uma conversa descontraída com o marido que eu
fui sentar no colo dele e ele disse que não me faria nada mal perder alguns
quilos. Pronto: a conversa não teve nada de descontraída. Fiquei puta da vida,
armei barraco, tenda, quiosque, usei de toda minha base feminista que eu
acredito, mas que para mim não estava mais surtindo efeito do tipo “e você, o
que está fazendo, por que eu tenho que ser atraente, estou cansada, tenho dois
filhos, não durmo a noite inteira, estou sempre doente, procure outra que
atenda às suas expectativas, meu filho.... E por aí vai.”
Mas não, eu não quero mais esse peso a mais. Eu estou me
sentindo mal, cansada e, como sempre digo, tenho duas crianças para criar, ou
seja, quando eles estiverem com 20 anos, eu estarei perto dos 60 e jamais quero
estar caindo aos pedaços. Na verdade, quero ser uma Maria Avelar, meus filhos:
corpo, cabelo, alma e espírito. Minha vó também.... Um pouco dela e da Avelar
está de bom tamanho. Josely também. Lúcia Helena também. Uma mistura
basicamente. A Eloisa Souza também.
Pois enfim, ando cansada demais. Comida acaba sendo uma
maneira de enfrentar os desafios de uma maternidade. A gente vai naquela de que
um docinho não vai fazer mal, um pedacinho de pão também não (e que vocês não
devem ter provado o pão do “Nosso Pão” para saber o que é estar no limbo!) e
quando vê está tudo nas coxas e nas nádegas. Tudo.
Acontece que para engravidar da Glorinha eu tive que fazer
uma mudança de vida drástica. Muito drástica do qual não tenho a mínima
vergonha em relatar (vergonha devemos ter de roubar, matar, mentir e por ai
vai. Se eu puder ajudar outras mulheres com meu relato, vamos junto!) porque
sofri de uma depressão severa. Tão severa, tão severa que até em Clínica eu
fiquei. Foram tempos difíceis. Foram meses terríveis. Muito remédio, muitas
perdas, sozinha em uma clínica, longe de tudo e todos, sofrendo com a ausência
da família que eu não sei o motivo de nunca terem ido me
visitar, além do Dirk.
Tudo muito triste. Sai de lá inchada, pesando 20 quilos a mais, com surtos, sem
saber meu papel no mundo. Foi terrível. Eu estava tão, mais tão diferente que
nunca vou me esquecer do jeito delicado que meu marido, pouco tempo depois, me
disse da minha aparência: “você parecia uma mulher de 70 anos...” Digamos que
hoje me dia ter 70 anos não signifique nada, mas era uma mulher de 70 anos
sofrida, com os baques da solidão, da dor espiritual, de não saber o que fazer
do futuro, com medicação fortíssima...”
E eu tive que enfrentar tudo...eu e o Dirk. Juntos. Me
diziam que eu nunca ficaria livre dos remédios, mas eu já não aguentava mais.
Eu sabia bem no meu íntimo que eu não precisava daqueles remédios, o que eu
precisava e preciso até hoje é me controlar frente aos "nãos" (haja altruísmo, vontade de mudar, pedir perdão, tentar de novo, mas eu quero, eu vou
conseguir, haja terapia, homeopatia, perda de amizades, haja. Chega!).
Combinamos eu e ele que pararíamos os remédios, mas com ele me observando, deixando claro que não recomendo isso a ninguém, ao menos que você tenha uma pessoa que te conheça tanto, mais tanto que seja capaz de perceber se os remédios estão sendo mesmo necessários ou você é quem não está sabendo lidar com a vida e tem que aprender na raça.
O engraçado que até hoje eu tenho que lidar com certas coisas e quando me chamam de algo que dói (tipo explosiva, etc) eu imagino se a pessoa sabe a história da minha vida. Não que a pessoa tenha que compreender, passar a mão na minha cabeça, mas me fale dos seus pecados que eu te falo dos meus!
Combinamos eu e ele que pararíamos os remédios, mas com ele me observando, deixando claro que não recomendo isso a ninguém, ao menos que você tenha uma pessoa que te conheça tanto, mais tanto que seja capaz de perceber se os remédios estão sendo mesmo necessários ou você é quem não está sabendo lidar com a vida e tem que aprender na raça.
O engraçado que até hoje eu tenho que lidar com certas coisas e quando me chamam de algo que dói (tipo explosiva, etc) eu imagino se a pessoa sabe a história da minha vida. Não que a pessoa tenha que compreender, passar a mão na minha cabeça, mas me fale dos seus pecados que eu te falo dos meus!
Pois então, foi no México quando ele chegou do trabalho que
eu disse: “vou parar com os remédios. Eu me exercito, eu faço de tudo, mas
esses remédios não ajudam. Eu vou parar!”
Foi lento, foi fácil porque eu sabia que dependia de mim. Eu
queria minha vida de volta!
Lembro então que na volta, fui a ginecologista e disse que
queria engravidar e ela me disse que eu precisava emagrecer. Eu me pesei lá e
tomei um susto, mas pelo menos livre dos remédios eu estava. Ela me recomendou
uma médica homeopata. Escreveu uma carta para eu levar lá. Fui direto a médica
homeopata e a secretária leu a carta e disse que era impossível conseguir
horário e me mostrou a lista de espera. Eu comecei a chorar. O telefone tocou.
Uma pessoa tinha acabado de desistir da consulta que seria daqui 15 minutos.
Ela me perguntou se eu poderia ficar e eu, logicamente, disse que sim. O
Universo começava a conspirar ao meu favor.
Foi simples, mas foi foda. Na verdade, ter acesso a pessoas
e lugares que te ajudam, muda tudo. Fico realmente pensando quem faz tudo isso
na raça, sem dinheiro, sem meios... essas sim são mulheres que merecem meu
respeito e palmas. Mulheres que parem em SUS, mulheres que emagrecem andando na
rua de madrugada antes das crianças acordarem, mas não vou me desmerecer. Esse
foi meu processo, tive muitas perdas, ainda tenho. Cada um sabe a dor e delícia
de ser o que é. Menos julgamento, mais amor!
Investi tudo na corrida, na yoga, homeopatia.... Quantas
vezes amigas minhas não me viam de madrugada, correndo na rua com a Preta (sim,
aquela que hoje está velhinha, cega e bate a cabeça). Mas lá estava eu, com
objetivo definido. Queria ter um filho, queria emagrecer mais de 20 quilos e ia
conseguir. Consegui parar de tomar todos aqueles venenos. Nada é impossível. Eu
chorava muito também, lembrando de quem tinha me machucado tanto, mais tanto.
Eu mal podia passar por certos lugares e ruas sem ter ânsia de vômito, eu ainda
não conseguia entender como alguém podia fazer tanto, mais tanto mal a outro
ser. Mas podem! Até hoje fazem. Mas eles passarão, eu passarinho!
Fui para a Índia e fiquei em um ashram recomendado pela
minha mestra, Maria Avellar. Fiquei um mês em Lonavla, no Instituto
Kaivalyadhama. Foi uma viagem e tanto. São Carlos, São Paulo. São Paulo,
Turquia. Turquia, Índia. Mais 4 horas de viagem de carro e me deparar então com
o oposto do meu mundo. Entrar em um quarto sem banheiro, tomar banho em um
banheiro coletivo com uma abertura no chão. Banho gelado. Uma ida dentro de
mim, passar por cima de tudo o que a gente considera certo, perfeitinho. E o
que eu mais precisava? De mim e só!
Foi um mês de muita prática de yoga, manhã, tarde e noite.
Terapia com comida. Jejum. Todo aquele veneno saindo do corpo. O calor, as
terapias com óleo, nada de luxo. Pessoas do mundo inteiro a procura de si
mesmos. E pessoas lindas, belas. Quantos encontros maravilhosos com pessoas do
Mundo inteiro, cada um com sua história. E eu adorava assistir as aulas dos
ninjas (professoras de yoga que faziam curso de aprimoramento que praticavam
asánas que eu jurava serem impossíveis de executar, mas eles executavam!). Eu
estava bem, eu estava com tudo e com nada. Sozinha de novo, mas um sozinha
cheio de esperança. Éramos eu e Deus fazendo as pazes.
Quando voltei ao Brasil, a luta continuava. Muito exercício,
ir fundo, ir fundo.
E finalmente, a balança ia diminuindo. O sonho de me tornar
mãe estava cada vez mais perto. Mas os miomas, os malditos miomas poderiam colocar
tudo a perder. O médico disse que tinha que operar, tirar tudo e aí engravidar.
Comentei com a Avelar que me aconselhou mais reiki, mais yoga. E foi o que eu
fiz: mais yoga, mais reiki, mais fé, mais coragem e até passar por constelação
sistêmica eu passei.
E então, meus peitos doíam e eu achando que era TPM. Mas
também tive azia e nunca tinha tido azia. Escrevi isso no facebook e uma amiga
me disse que eu estava grávida. Magina, grávida. Nunca. Peguei a Preta para
passear, Dirk estava a trabalho na Indonésia (ou Tailândia!). Passei na minha
vó, disse que estava com azia e ela para não me dar esperança, disse que era
falta de comer direito. Só consegui comer um pão com queijo.
Mas no dia seguinte fui fazer o exame de farmácia e nunca
vou esquecer da alegria que senti e, ao mesmo tempo, a estranheza ao ver
aquelas linhas. Eu estava grávida. Eu tive toda a recompensa de todo meu
esforço, eu ganhei meu pote de ouro que estava ao final do arco íris.
Grávida e não era de um beija-flor.
Dali para frente foi tudo mágica....
Dali para frente, foi só amor.
Aí tem a história do parto cesárea que dá outra crônica
alucinante. Superação de novo.
Daí eu fiquei grávida de novo, sem querer, 6 meses depois.
Daí que minha vida mudou completamente, meu corpo também. Meu
casamento também. Daí que veio o Lorenzo em outro parto cesárea angustiante e
nada, nada humanizado. Daí que recomeço tudo de novo. Lutando pela minha vida
profissional, pelo meu casamento, para criar duas crianças, para emagrecer de
novo e levando em consideração que estou sempre doente, sem tempo, marido que
viaja sem parar. Mas a gente tem que dar o primeiro passo e já dei.
Com 20 anos, 30, 56, 76 anos a gente tem que se reinventar a
todo momento. O importante é não perder a essência nunca. Brava eu continuo. Talvez
por exigir muito de mim, acabo exigindo muito dos outros. Tentar levar as
coisas de uma forma mais leve, mais tolerante. Ser mais delicada comigo e com
as pessoas, não me decepcionar com as pessoas porque eu também as decepciono,
mas sabendo que todo mundo, eu repito, tem uma história.
Não tem sido fácil. Mas tenho ido fundo e vou mais. Tem
gente que dou graças a Deus que foi embora, outras que eu faço de tudo para
recuperar. Amigas que apareceram e que tem me ensinado a ser paciente, a saber
aguardar. Amigas que também me colocam no lugar, me mandam para aquele lugar e
eu refaço meus pensamentos.
Então, estou aqui, você que está lendo tudo isso. Quero ter a minha vida, ser feliz. Todo o
padrão feminista continua me envolvendo, minhas decisões também. Não estou
fazendo nada para agradar a ninguém, além de mim mesmo e a minha saúde. Não
pretendo ser magra porque não faz parte do meu biótipo, mas salvar meu joelho,
meus órgãos internos e tudo o mais... minha autoestima idem. E certeza que alguém
que seja magra e está lendo isso aqui, vai achar algo que gostaria de mudar ou
ter na sua vida. A grama do vizinho é inevitavelmente mais verde. Será?!
E vamos acompanhar essa história por aqui.... Não são só
quilos, mas outros quilos de outras coisas que eu preciso deixar para trás. Mas
essa sou eu: coração enorme, coxas idem... mas vou atrás da minha felicidade.
E você?!
Ainda vai esperar o ano que vem achando que para esse ano não dá mais?!
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