sábado, 5 de dezembro de 2015

Um jeito diferente de comemorar os dois anos da minha filha!

Primeiro  Aniversário
Então, o aniversário da minha Gloria estava quase perto. Estava bem triste porque o pai não estaria aqui. Tinha planos e mais planos. Pensei em fazer uma festinha regada a pizza do Chef´s da Pizza que é uma delícia, mas depois de algumas semanas com duas crianças, na maioria do tempo, sozinha, eu estava esgotada e só queria saber de não fazer nada que exigisse responsabilidade. Ano passado, quando fez um aninho, também fizemos algo intimista e foi gostoso, foi lindo....
Por outro lado, não acredito em festas grandes (quer dizer, enquanto eu puder acreditar. Sei que a Gloria vai crescer e talvez queira algo como os amiguinhos e não serei esse tipo de mãe que diz não. Quero poder proporcionar isso!), mas enfim queria resgatar essas festinhas: aquelas que eu tive, mas com menos açúcar, sem refrigerante, mas aquela coisa
as nossas festinhas eram assim... na foto meu primo Tiago! e era tãooooooooo bom!
feita em casa, sem consumismo, algo entre amigos.... Lembrar de mim quando era criança porque, pelo menos disso, tenho ótimas lembranças...meus aniversários sempre foram lindos e simples. Teve uma vez que meu pai fez na pizzaria e foi inesquecível. Outra vez foi na escola mesmo, outras em casa, mas sempre teve aquele sabor de festa intimista.
Pois então, tive duas ideias durante as duas semanas que antecederam o aniversário: primeiro fui comprar coisas de um dos personagens favoritos dela e no caso foi a Minnie que ela diz “Mimi”. Comprei tudo para fazer o bolo. Na noite anterior, eu decorei tudo enquanto as crianças dormiam. Fiz o bolo, decorei. Deixei tudo lindo para que no dia seguinte, ela acordasse e desse de cara com as belezuras que a mamãe fez.
Também tinha combinado uma sessão de fotos com a melhor fotógrafa ever, a Eloisa Souza, mas bem no dia do aniversário dela choveu. Fazer o que?! Não deu certo. Talvez no outro dia.
Esse dia, o dia do aniversário dela, foi lindo. Ela acordou e viu tudo aquilo e sem saber do que se tratava, falou: Mimi.
Logo pela manhã....
Apagou as velinhas, ficou encantada com a decoração que a mamãe fez.
Queria que fosse um dia especial. Levei-a na escolinha, mas avisei que as quatro horas iria buscá-la para que cantássemos parabéns na casa da vovó. Já a arrumei na escolinha. Ela chegou na casa da vovó e as pessoas queridas estavam lá... Pessoas que moram no meu coração hoje e sempre. Ela amou. Cantamos parabéns de novo. Lembrei de mim, lembrei que eram essas lembranças que deveriam ficar, que essas seriam as fotos que ela veria quando adulta e depois mostraria aso seus filhos, se filhos decidisse ter.
Ah, ser mãe.
De mim ela ganhou um presente de R$7,00 que comprei no supermercado. Algo que imitava secador de cabelo, pente... e ficou feliz! E no dia seguinte já deixou de lado. Crianças, crianças!
Ganhou da dinda e do dindo uma melissinha. Das vovós ganhou bichinho de pelúcia, fraldas....
Mas então, eu pensei, e as fotos? Vou deixar de fazer o projeto lindo que tinha em mente?
Nãooooooo!
Mas deixa eu contar o que fiz... Uma semana antes eu fui a uma floricultura e comprei, junto com a Glorinha, guiada por um senhor que trabalha lá que eu adoro e que faz um trabalho maravilhoso, duas mudas de árvore para plantar. Sim, eu queria que ela plantasse duas árvores, que ela visse como é plantar uma árvore, que ela regasse...que esse momento fosse inesquecível daqui alguns anos. Duas mudas que representasse sua nova idade: 2 anos!
Uma menina de dois anos que entenderá todos os anos o valor que plantar árvores pode ter em um mundo cada vez mais egoísta, em um mundo onde a individualidade é cada vez mais exacerbada. Eu queria que ela percebesse que mudar o mundo depende dela, de todos nós.
Fomos então, no dia seguinte ao aniversário dela, na chácara e estava um dia lindo. Fomos eu, o Lorenzo e minha vó. O buraco já estava mais ou menos aberto, que o caseiro já tinha nos auxiliado. Só precisávamos tirar a muda que estava envolvida no plástico, colocar no buraco, colocar a terra e então, molhar. E ainda uma amiga querida emprestou as "botinha de chuva". Tudo seria perfeito. Foi uma correria: buscar as botas, voltar para casa, esperar minha vó, colocar as crianças no carro, etc,etc, mas eu iria conseguir!
E foi o que fizemos. E eu fotografei e filmei esse momento mágico e único. Nós fizemos uma diferença enorme nesse mundo que está sofrendo com a falta de árvores, cujos índices de desmatamento são cada vez maiores e não se pode negar. Um mundo onde as pessoa não tem jardim em suas casas, onde as pessoas preferem cimentar os quintais para ficar mais fácil de limpar (para não dar trabalho!) e ai a chuva vem com tudo e destrói tudo porque não tem por onde escoar. Vivemos em selvas de pedra... Nós é que estamos acabando com tudo. Um mundo onde o nível de raios ultra violetas aumenta cada vez mais, onde árvores são cortadas, onde quase não existe mais sombra, onde a Floresta Amazônica está sendo cada vez mais desmatada e o nosso governo (?) não faz absolutamente nada.
Pois é!


O projeto é fazer isso em vários lugares. Aos três anos da Glória plantar árvores em outros lugares.... O projeto é que a medida que ela for crescendo ela plante árvores. Se quiser plantar vinte árvores quando tiver vinte anos e eu estarei lá…. junto. Logo, logo será o Lorenzo que plantará a sua árvore quando fizer um ano.
Porque isso muda o mundo! Porque dividiremos os frutos dessas árvores que plantamos
Isso sim!
Ainda no final de semana, no sábado teve a festa da primavera na escolinha. Muita música, muitos comes e bebes, mudas de plantas, brincadeiras… para ela era mais uma comemoração, mais uma festa só para ela. Até uma amiga que mora em meu coração cantou parabéns, a Mari. 
festinha com as amigas queridas que trouxeram tudo....













E no Domingo, amigas queridas, vieram em casa…E trouxeram tudo... trouxeram comidinhas maravilhosas, presentinhos para a Gloria. Até brigadeiro uma amiga fez.... Me senti agradecida por estarem me ajudando, por estarmos aproveitando momentos únicos com nossos filhos.... Me senti grata. Nunca vou me esquecer desse momento e das amigas que me ajudaram. Que minha filha também tenha amigas assim.
Festa da primavera na escolinha
E ainda no final do mês, a escolinha faz a festinha das crianças que aniversariam nesse mês. Mais uma festa. Mais parabéns e foi lindo. Não pude estar lá, mas deixei a câmera fotográfica, mas o mais lindo de tudo foi descobrir, batendo com uma mãe cuja filhinha também está na turminha da Glorinha, que a filhinha dela também faz aniversário em Novembro. Falei para ela:” vamos fazer surpresinhas juntas para darmos de presente às crianças da turminha dela?!” 
Ela super topou. Fui atrás de tudo, na correria, mas fui. E ela ficou com a parte de embrulhar, colocar o cartãozinho.... E ficou lindo. 
E deixo aqui a mensagem: por mais aniversários onde o simples seja o necessário, onde se ensine algo de bom, onde mais árvores que deem flores, furtos e flores sejam plantadas e depois colhidas por todos.
Obrigada!
Obrigada, Glorinha, por me incentivar a querer um mundo melhor para nós, para todos!


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Tudo você.... carta de uma mãe que saiu fora... por uma semana!

Então, tá bom.... eu quero que você fique no meu lugar por uma semana. Sim, poderia falar para sempre, mas os filhos me são muito amados.... acho que nem por uma semana consigo ficar longe, mas vamos tentar.
Eu quero que você lembre de deixar a casa em ordem antes de dormir. Não gosto de bagunça no dia seguinte. Gostamos de tomar café de forma organizada pela manhã. Não esqueça que a Glorinha toma a mamadeira dela, mas não esqueça do mel e da canela. O mel você usa só um pouquinho. Não queremos que ela tenha cáries, mas lembre-se de marcar o dentista. Não se esqueça de escovar os dentes dela de manhã, depois do almoço e ao ir dormir. Lorenzo come o mingau. Use as proporções corretas. Para não te ajudar, não deixei nada escrito. Então, você terá que se lembrar das medidas de algum modo. E nem a Lili vai te ajudar porque dei férias para ela. Então, vire-se. Eu me viro aos finais de semana e feriados. Eu já me virava sem ajuda grávida do Lorenzo. Eu me viro todas as tardes e noites, então vire-se.
Então, é hora de esperar eles fazerem shit. E fazem muita shit. Você pega um e pega outro e aí você limpa. Eles não curtem muito esse momento. Ao menos que você goste de ouvir criança chorando, por favor, ache uma maneira de silenciá-los, mas sem usar palmadas porque aqui nessa casa nunca adotamos esse método. Porém, o método que eu uso, não saberás.
Tenha sempre o sling perto de você. Você não poderá mais fazer xixi, ler um e-mail, lavar as mãos sem ter o Lorenzo perto de ti. Sim,  terás que saber tirar a calça jeans  ou a cueca com uma criança no seu colo e a outra pedindo colo. Vire-se.
Olhe a geladeira. E a despensa também. Veja o que está faltando. Faça uma lista. As crianças estarão com você, mas deixo sonhares que elas ficarão brincando como nos comerciais. Deixo sonhares porque sonhar é bom. Você terá vontade de fazer xixi, de fazer shit, de sentar porque não dormiu uma noite inteira, mas não tem como. Só na primeira soneca que só acontece depois do almoço e que também terá o que fazer ou decidir o que será feito.
Não esqueça do própolis. Eles estarão tossindo em algum momento e tossir dói.
A lancheira...tem que pensar o que a Glorinha levará de lanche.
Olhar os emails. Nesse momento, receberá email do contador, do advogado. O caseiro também vai ligar perguntando se lembrei de comprar gasolina para a máquina de cortar grama. E você ainda estará sujo, suado e querendo um banho. Cansado também. Seu pé estará seco, suas unhas sem fazer... 
Você tem que brincar com as crianças. Coloque o Lorenzo no mei tai (ele sempre está lá), Glorinha no carrinho, coloque a primeira roupa que você vir na frente e não se esqueça- NUNCA- dos óculos escuros. Se tiver coragem, vá de pijama. Não ligo mais quando levo os cachorros para passear. Sou a mãe das duas crianças... Então, as mulheres me olham compadecidas.
Querido, meu amor, pelo amor de Deusssss, não esqueça dos cachorros: tem que ver se tem água fresca, comida. A Preta come ração diferenciada porque já está velhinha. Procure na despensa dos produtos de limpeza. Cuidado para fechar a porta desta ou corre-se o risco de Glorinha entrar e mexer em tudo.
Ah, eles, os cachorros, vão precisar passear. Mesmo tendo grama em casa, acho o cúmulo o cachorro ficar preso, sem ver o mundo ao redor. Eu quero que seja assim, continue fazendo assim.
Vá passear, Glorinha precisa disso. Não sei que horas você pretende passear com os cachorros.
Ah, você viu se a carteirinha de vacinação está em dia? Está no dia de retorno do pediatra? Acabou o Nan? Lorenzo pode querer peito também. Dê o seu, a vontade dele é de sugar, contato pele a pele. Não deixe de fazer isso.
Quando for preparar a comida deles, não coloque sal. Crianças não podem com sal. Glorinha tem certas particularidades. Você precisa aprender quais são, ou melhor, tem um jeito certo de oferecer comida, mas acho que vou deixar você descobrir. Ah, depois do almoço, tem o suco, mas não se esqueça... Lorenzo chora, e muito se saímos de perto.
Ei, já conseguiu fazer xixi?
O telefone está tocando.
Tocaram a campainha.
Vixe maria, vai lá atender.
Hora do banho do Lorenzo. Leve os dois ao banheiro. 
Depois faça a Glorinha dormir.
Putiz, tem que olhar as fraldas e se fizeram muito xixi, se estão assados.
Cuidado que assadura dói.
Não use esses cremes da vida. Uso um especial e se acabou, ferrou. Você tem que ligar e encomendar. Se der sorte, terá. Então, tem sempre que ligar. Ter dois à disposição. O telefone dela você acha... ah, procure na internet. Se vire!  Já deve ter prestado atenção na pomada. Com certeza, vai se lembrar do nome.
Não, não me telefone, por favorrrrr.
Estou descansando em um spa. E emagrecendo, né... Porque, oras, não foi você que me pediu para emagrecer uns dez quilos. Então, to aqui na luta. A lili também viajou. Fiz questão de pagar uma semana de férias para ela. Pô, ela também merece né?! Muito mais do que nós dois juntos. Pedi para deixar o celular. Sabe como é? Nós duas precisamos descansar.
Lorenzo não faz soneca da manhã, nem dorme quando Glorinha está dormindo.
Por essa razão, dê um jeito de tomar banho com ele junto. Você não vai querer sair de casa fedido e suado para levar Glorinha na escolinha, né?!
Tome banho, aproveite para colocar todas as malas no carro. Verifique se o carrinho deles está no carro, se tem combustível no carro. Preste atenção no relógio.
Reze uma Ave maria, peça força.
Ele vai querer peito ou mamadeira. Dê um dos dois, mas dê. Ou ele  berra, mas não espere que ele durma. Ele, como você mesmo disse, é diferente da Glorinha. Ou como me disse " você não é pedagoga então vai saber se virar..."  e eu te falo com um riso de lado: "mas você não é pedagogo então vai se f...." 
Melhor deixar quieto!
A cozinha... tem que estar limpa. Chegar em casa depois e dar de cara com coisa suja... não rola. Limpe a cozinha em tempo recorde. Não gaste muita água. 
Aproveite e veja se tem comida para o jantar. 
Putiz, Lorenzo está fazendo shit. De novo.
Não tem fraldas?!
Como assim?!
E o leite, acabou?!
Ah meu pai, e agora, Glorinha dorme, você não tem ninguém em casa, vai fazer o que?!
Já deve saber que danou-se. Como resolver?!
Não, não me ligue. Confio em você para resolver tudo isso. Você é forte, pode tudo. Só mais alguns dias... se eu voltar!
Glorinha acordou. Espero que tenha resolvido a situação. Cadê a mamadeira? Glorinha escondeu?
Ai, que dó de você. Não pergunte nada a ela. Às vezes, está de mal humor.
Corre porque é um trânsito infernal e atrasar é feio.
Coloque os dois no carro.
Costas doem. Você suará.
Deixe-a na escolinha.
Mas pera aí, olhou a agenda?
Assinou a agenda?
Nãooooooo... Pronto, errou feio. Era dia de Culinária e você esqueceu de comprar tudo que tinha que comprar.
Sua filha não merece isso.
Explique-se para a professora. Peça desculpas ou vá correndo, debaixo desse calor, no supermercado. Lorenzo berra, mas ser pai é tão bom, precisa ser responsável. Não, não corra. Acidentes acontecem. 
Pelo amor hein?!
Volte com os ingredientes. Troque a roupa do Lorenzo que está todo suado. Esqueceu de levar roupas extras?! Meu pai do céu, que pai que se tornaste! E nem passou um dia.
Tem que voltar pra casa.
Depois saia de novo. Hora de resolver supermercado (lembra da lista?). Depois vá ao contador, tem que levar também os resíduos de frutas e legumes para a composteira. Pegou o dinheiro do caseiro? Fez uma lista?! Esqueceu da gasolina para a máquina de cortar grama... inútil!
Já imaginava!
Pera aí, já são quase cinco horas. Glorinha .... lembra que tem que buscá-la as cinco?
Você deu a fruta ao Lorenzo ou ele está sem comer nada?
Ah, meu filho, que vergonha!
Você se exercitou? Meditou?
Não fez nada?!
Vergonhoso.
Espero que tudo esteja limpo para quando eu chegar em casa.
Não se olhe no espelho para não chorar. Suas olheiras devem estar pedindo arrego...e se tivesse cabelo, estaria descabelado e com a raiz do cabelo gritando.
Banho nos dois. E você também.
Já escrevi sobre meu método em alguma postagem, mas não sei se você teve tempo de acompanhar.
Agora, paciência.
Jantar. Não tem nada pronto?!
Nãooo. E agora?
Tem que fazer algo, mas lembre-se não é tudo que um come, que o outro pode. Nada de embutidos para as crianças. Nem carne. Graças a Deus, não gostam. Os cachorros também estão com fome.
Ok.
Hora de brincar, ler, depois fazer mamadeira, colocar para dormir....
Ufa!
Descansar?!
Magina...
Deixar.....
Oi, você tá aí?
Oieeeeeeeeeeeeee....
Desmaiou!
Não serve para nada mesmo.... Se fosse eu, teria feito tudo...



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Dois anos de muito....e pouco!

E hoje ela fez 2 anos. Que coisa, que coisa. Nem que eu escrevesse um milhão de vezes essa afirmação, eu poderia acreditar que o tempo escorre mesmo pelas mãos.

Lembro exatamente de todos os acontecimentos que antecederam sua vinda. Mas já escrevi sobre isso. Não quero falar do parto... o quase parto. Quero falar do momento em que eu a vi, minha bebê, minha filha. E como eu tive medo que não daria conta. Mas a partir do momento em que estavas em meus braços, parece que algo se apoderou de mim, como se sempre eu tivesse nascido para isso (e calma aí, porque respeito e muito as mulheres que não nasceram para isso, mas eu nasci).

Enfim, lembro da gente lá na casa de Saúde. As enfermeiras me ensinando a amamentar, todos os cuidados que tivemos. Nós duas.... Juntinhas. O primeiro banho que o pai teve que dar porque eu mal conseguia me mexer. E nada de cair a ficha de que eu tinha me tornado mãe. Eu me sentia mãe, mas o que é ser mãe? Pergunta retórica que me absorve e me persegue até hoje já que meu modelo de mãe não foi o mais exemplar, mas hoje talvez eu vá compreendendo que se dá o que se tem, se dá o que se pode e retorno a pergunta: quem é que define o que e ser mãe?!
Ah, como foi bom esperar teu pai chegar sempre na hora do almoço e no jantar. Minha refeição chegava, mas eu sempre guardava metade para seu pai. Éramos nós dois em estado de transe total. Nossa filha, nossa filhinha. Eu acabada, cansada, mas feliz com minha bebezinha. Dores terríveis, sangue por todos os lados, com um modess enorme que papai comprou nos Estados Unidos (praticamente uma fralda), as dores da cesárea....

E você lá, minha filhinha!
Eu aprendendo a te amamentar com ajuda de tantas outras mulheres e mal sabia que tantas outras sequer recebem esse auxílio, mal sabia eu que tantas outras não tiveram os mesmos luxos de amparo nem do parto cesárea humanizado que eu tive.... Na verdade, só fui me tocar dessa exclusividade e acordar para o sistema, quando tive o Lorenzo! 

Certas coisas demandam tempo e maturidade... sair da matrix!
Então, te trouxemos para casa, minha pop corn e foram tantas coisas que passamos juntas.
Você foi crescendo sem eu perceber, me enchendo de felicidade como se Deus tivesse te escolhido a dedo para alegrar uma mãe com tendência a tristeza desmedida. Hoje mal tenho tempo de ficar triste porque são dois, né, minha gente.
Muito tempo só nós duas.... aí veio o Lorenzo e éramos nós três. Você sentadinha no carrinho, me vendo fazer faxina com aquele barrigão... E você ficava de boa. Magina que o Lorenzo fica assim. Lorenzo quer colo 24 horas. Você sempre me observando... Eu podia limpar a casa inteira, cozinhar que você ficava de boa.
Minha menina que ficou loira da noite para o dia.

Então, fizeste um ano. Nunca fez minha cabeça grandes festas. Queria apenas algumas amigas e uma pequena comemoração na vovó. Tudo feito por mim. Grávida, barriguda, correndo porque pelo seu pai, alemão até a última raiz do cabelo (que falta), essas coisas são tão desnecessárias. Mas para mim não eram e nunca serão.

Naquele calor, eu e você fomos buscar brigadeiros, torradinhas, fazer a decoração que no fim papai ajudou e se divertiu.
E ontem quase de madrugada, surtando de sono, eu arrumei tudo. Tudo simples, mas para você deixei tudo arrumadinho para que quando acordasse, desse de cara com mais um dos seus personagens favoritos. E amaste! Amou também o presente baratinho que comprei no supermercado.  És uma criança. E eu também me sinto assim....

A tarde ainda você foi um pouco na escolinha e fui te buscar mais cedo para cantarmos parabéns na vovó. Foi assim: especial.
Infelizmente, papai não estava aqui. Viajando (de novo). Somos nós três e estamos sobrevivendo e dando dando conta.
Serão mais alguns anos, será para sempre, meu amor.
Minha luz inexorável, minha pequena cheia de manias.... É isso que quero te ensinar: que não importa a festa, o presente, as pessoas, importa a gente, a nossa família, as boas pessoas que encontramos pelo caminho, importa quando vermos essas fotos e você se tocar que fui eu quem fiz, que fui eu que te fiz sorrir....

E que eu serei para você uma mãe...a mãe que eu posso ser, nem melhor, nem pior. Apenas uma mãe que te ama sem limites!

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

E tudo de novo outra vez....

Então, chega um dia que você acorda. Você acorda e está calor, muito calor. Não dá para usar calça jeans mais, não dá.
Você acorda e percebe que depois de duas gravidezes você está acima do peso e não está feliz. Um filho atrás do outro, nunca fui atleta, o corpo demora cada vez mais para voltar ao normal. E você está perto dos 40 anos. Uma somatória nada, nada agradável e que faz mal para minha saúde.

Soma-se a isso uma conversa descontraída com o marido que eu fui sentar no colo dele e ele disse que não me faria nada mal perder alguns quilos. Pronto: a conversa não teve nada de descontraída. Fiquei puta da vida, armei barraco, tenda, quiosque, usei de toda minha base feminista que eu acredito, mas que para mim não estava mais surtindo efeito do tipo “e você, o que está fazendo, por que eu tenho que ser atraente, estou cansada, tenho dois filhos, não durmo a noite inteira, estou sempre doente, procure outra que atenda às suas expectativas, meu filho.... E por aí vai.”
Mas não, eu não quero mais esse peso a mais. Eu estou me sentindo mal, cansada e, como sempre digo, tenho duas crianças para criar, ou seja, quando eles estiverem com 20 anos, eu estarei perto dos 60 e jamais quero estar caindo aos pedaços. Na verdade, quero ser uma Maria Avelar, meus filhos: corpo, cabelo, alma e espírito. Minha vó também.... Um pouco dela e da Avelar está de bom tamanho. Josely também. Lúcia Helena também. Uma mistura basicamente. A Eloisa Souza também.
Pois enfim, ando cansada demais. Comida acaba sendo uma maneira de enfrentar os desafios de uma maternidade. A gente vai naquela de que um docinho não vai fazer mal, um pedacinho de pão também não (e que vocês não devem ter provado o pão do “Nosso Pão” para saber o que é estar no limbo!) e quando vê está tudo nas coxas e nas nádegas. Tudo.
Acontece que para engravidar da Glorinha eu tive que fazer uma mudança de vida drástica. Muito drástica do qual não tenho a mínima vergonha em relatar (vergonha devemos ter de roubar, matar, mentir e por ai vai. Se eu puder ajudar outras mulheres com meu relato, vamos junto!) porque sofri de uma depressão severa. Tão severa, tão severa que até em Clínica eu fiquei. Foram tempos difíceis. Foram meses terríveis. Muito remédio, muitas perdas, sozinha em uma clínica, longe de tudo e todos, sofrendo com a ausência da família que eu não sei o motivo de nunca terem ido me
visitar, além do Dirk. Tudo muito triste. Sai de lá inchada, pesando 20 quilos a mais, com surtos, sem saber meu papel no mundo. Foi terrível. Eu estava tão, mais tão diferente que nunca vou me esquecer do jeito delicado que meu marido, pouco tempo depois, me disse da minha aparência: “você parecia uma mulher de 70 anos...” Digamos que hoje me dia ter 70 anos não signifique nada, mas era uma mulher de 70 anos sofrida, com os baques da solidão, da dor espiritual, de não saber o que fazer do futuro, com medicação fortíssima...”
E eu tive que enfrentar tudo...eu e o Dirk. Juntos. Me diziam que eu nunca ficaria livre dos remédios, mas eu já não aguentava mais. Eu sabia bem no meu íntimo que eu não precisava daqueles remédios, o que eu precisava e preciso até hoje é me controlar frente aos "nãos" (haja altruísmo, vontade de mudar,  pedir perdão, tentar de novo, mas eu quero, eu vou conseguir, haja terapia, homeopatia, perda de amizades, haja. Chega!). 
Combinamos eu e ele que pararíamos os remédios, mas com ele me observando, deixando claro que não recomendo isso a ninguém, ao menos que você tenha uma pessoa que te conheça tanto, mais tanto que seja capaz de perceber se os remédios estão sendo mesmo necessários ou você é quem não está sabendo lidar com a vida e tem que aprender na raça. 
O engraçado que até hoje eu tenho que lidar com certas coisas e quando me chamam de algo que dói (tipo explosiva, etc) eu imagino se a pessoa sabe a história da minha vida. Não que a pessoa tenha que compreender, passar a mão na minha cabeça, mas me fale dos seus pecados que eu te falo dos meus!
Pois então, foi no México quando ele chegou do trabalho que eu disse: “vou parar com os remédios. Eu me exercito, eu faço de tudo, mas esses remédios não ajudam. Eu vou parar!”
Foi lento, foi fácil porque eu sabia que dependia de mim. Eu queria minha vida de volta!

Lembro então que na volta, fui a ginecologista e disse que queria engravidar e ela me disse que eu precisava emagrecer. Eu me pesei lá e tomei um susto, mas pelo menos livre dos remédios eu estava. Ela me recomendou uma médica homeopata. Escreveu uma carta para eu levar lá. Fui direto a médica homeopata e a secretária leu a carta e disse que era impossível conseguir horário e me mostrou a lista de espera. Eu comecei a chorar. O telefone tocou. Uma pessoa tinha acabado de desistir da consulta que seria daqui 15 minutos. Ela me perguntou se eu poderia ficar e eu, logicamente, disse que sim. O Universo começava a conspirar ao meu favor.
Foi simples, mas foi foda. Na verdade, ter acesso a pessoas e lugares que te ajudam, muda tudo. Fico realmente pensando quem faz tudo isso na raça, sem dinheiro, sem meios... essas sim são mulheres que merecem meu respeito e palmas. Mulheres que parem em SUS, mulheres que emagrecem andando na rua de madrugada antes das crianças acordarem, mas não vou me desmerecer. Esse foi meu processo, tive muitas perdas, ainda tenho. Cada um sabe a dor e delícia de ser o que é. Menos julgamento, mais amor!
Investi tudo na corrida, na yoga, homeopatia.... Quantas vezes amigas minhas não me viam de madrugada, correndo na rua com a Preta (sim, aquela que hoje está velhinha, cega e bate a cabeça). Mas lá estava eu, com objetivo definido. Queria ter um filho, queria emagrecer mais de 20 quilos e ia conseguir. Consegui parar de tomar todos aqueles venenos. Nada é impossível. Eu chorava muito também, lembrando de quem tinha me machucado tanto, mais tanto. Eu mal podia passar por certos lugares e ruas sem ter ânsia de vômito, eu ainda não conseguia entender como alguém podia fazer tanto, mais tanto mal a outro ser. Mas podem! Até hoje fazem. Mas eles passarão, eu passarinho!
Fui para a Índia e fiquei em um ashram recomendado pela minha mestra, Maria Avellar. Fiquei um mês em Lonavla, no Instituto Kaivalyadhama. Foi uma viagem e tanto. São Carlos, São Paulo. São Paulo, Turquia. Turquia, Índia. Mais 4 horas de viagem de carro e me deparar então com o oposto do meu mundo. Entrar em um quarto sem banheiro, tomar banho em um banheiro coletivo com uma abertura no chão. Banho gelado. Uma ida dentro de mim, passar por cima de tudo o que a gente considera certo, perfeitinho. E o que eu mais precisava? De mim e só!
Foi um mês de muita prática de yoga, manhã, tarde e noite. Terapia com comida. Jejum. Todo aquele veneno saindo do corpo. O calor, as terapias com óleo, nada de luxo. Pessoas do mundo inteiro a procura de si mesmos. E pessoas lindas, belas. Quantos encontros maravilhosos com pessoas do Mundo inteiro, cada um com sua história. E eu adorava assistir as aulas dos ninjas (professoras de yoga que faziam curso de aprimoramento que praticavam asánas que eu jurava serem impossíveis de executar, mas eles executavam!). Eu estava bem, eu estava com tudo e com nada. Sozinha de novo, mas um sozinha cheio de esperança. Éramos eu e Deus fazendo as pazes.
Quando voltei ao Brasil, a luta continuava. Muito exercício, ir fundo, ir fundo.
E finalmente, a balança ia diminuindo. O sonho de me tornar mãe estava cada vez mais perto. Mas os miomas, os malditos miomas poderiam colocar tudo a perder. O médico disse que tinha que operar, tirar tudo e aí engravidar. Comentei com a Avelar que me aconselhou mais reiki, mais yoga. E foi o que eu fiz: mais yoga, mais reiki, mais fé, mais coragem e até passar por constelação sistêmica eu passei.
E então, meus peitos doíam e eu achando que era TPM. Mas também tive azia e nunca tinha tido azia. Escrevi isso no facebook e uma amiga me disse que eu estava grávida. Magina, grávida. Nunca. Peguei a Preta para passear, Dirk estava a trabalho na Indonésia (ou Tailândia!). Passei na minha vó, disse que estava com azia e ela para não me dar esperança, disse que era falta de comer direito. Só consegui comer um pão com queijo.
Mas no dia seguinte fui fazer o exame de farmácia e nunca vou esquecer da alegria que senti e, ao mesmo tempo, a estranheza ao ver aquelas linhas. Eu estava grávida. Eu tive toda a recompensa de todo meu esforço, eu ganhei meu pote de ouro que estava ao final do arco íris.
Grávida e não era de um beija-flor.
Dali para frente foi tudo mágica....
Dali para frente, foi só amor.
Aí tem a história do parto cesárea que dá outra crônica alucinante. Superação de novo.
Daí eu fiquei grávida de novo, sem querer, 6 meses depois.
Daí que minha vida mudou completamente, meu corpo também. Meu casamento também. Daí que veio o Lorenzo em outro parto cesárea angustiante e nada, nada humanizado. Daí que recomeço tudo de novo. Lutando pela minha vida profissional, pelo meu casamento, para criar duas crianças, para emagrecer de novo e levando em consideração que estou sempre doente, sem tempo, marido que viaja sem parar. Mas a gente tem que dar o primeiro passo e já dei.
Com 20 anos, 30, 56, 76 anos a gente tem que se reinventar a todo momento. O importante é não perder a essência nunca. Brava eu continuo. Talvez por exigir muito de mim, acabo exigindo muito dos outros. Tentar levar as coisas de uma forma mais leve, mais tolerante. Ser mais delicada comigo e com as pessoas, não me decepcionar com as pessoas porque eu também as decepciono, mas sabendo que todo mundo, eu repito, tem uma história.

Não tem sido fácil. Mas tenho ido fundo e vou mais. Tem gente que dou graças a Deus que foi embora, outras que eu faço de tudo para recuperar. Amigas que apareceram e que tem me ensinado a ser paciente, a saber aguardar. Amigas que também me colocam no lugar, me mandam para aquele lugar e eu refaço meus pensamentos.
Então, estou aqui, você que está lendo tudo isso.  Quero ter a minha vida, ser feliz. Todo o padrão feminista continua me envolvendo, minhas decisões também. Não estou fazendo nada para agradar a ninguém, além de mim mesmo e a minha saúde. Não pretendo ser magra porque não faz parte do meu biótipo, mas salvar meu joelho, meus órgãos internos e tudo o mais... minha autoestima idem. E certeza que alguém que seja magra e está lendo isso aqui, vai achar algo que gostaria de mudar ou ter na sua vida. A grama do vizinho é inevitavelmente mais verde. Será?!
E vamos acompanhar essa história por aqui.... Não são só quilos, mas outros quilos de outras coisas que eu preciso deixar para trás. Mas essa sou eu: coração enorme, coxas idem... mas vou atrás da minha felicidade.
E você?!
Ainda vai esperar o ano que vem achando que para esse ano não dá mais?!




sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Sobre quando a gente decide se abraçar....e andar! por Karina Petroni Fischer

Naquela manhã ela acordou decidida, mas era um de-ci-di-da que incluía que a decisão de decidir sobre as decisões dela era só dela: uma sensação boa, um pedacinho daquela paz que sempre quis.
Então, o que faria com aquela decisão de decidir, já que era sábado, não tinha que trabalhar? Manicure, ler um livro, comer algo deliciosamente bom e calórico, cinema?! Enquanto enumerava sua lista de “TO DO”, pensou que ultimamente tinha sido uma mulher que preferiu o nada a qualquer coisa, o zero ao risco do negativo, a sorrir amarelo a dizer dane-se. Por tanto tempo, que olhou no relógio e sentiu que já era  tempo de conviver com aquela sensação, quase que surreal, de comer um pedaço de cheesecake com coca zero deitada na cama e sujando não só a cama, como o pijama. Sujava-se muito pouco. Ora, o que pensariam? Evitava até pedir macarrão al sugo junto com os amigos.
Pronto, a decidida decidiu: ia convidar todo mundo para comer macarrão.  Lógico que pensariam que iria pedir, como sempre, algo que não a constrangesse ou aos outros, mas cara, gritou bem alto, eu faço isso há tantos anos! Pensando bem, desde que a mãe, quando ela tinha 4 anos de idade, em sua santa inocência, viu-a pegando a comida com a mão porque viu na TV crianças que faziam assim em uma aldeia e ríspida, disse: -”sua menina nojenta e sem modos, use o garfo e a faca!”
Será que ela comia macarrão com colher? Ela nunca viu! Freud, me explica?!
E ia convidar “ele”. Sim, ele e seus olhos absurdamente azuis que pareciam voar para fora e dentro, dentro e fora quando lhe dava as mãos e tudo o que ela mais queria era estar ao lado dele e daquela paz que ela temia tanto de tão desacostumada. Ah, como queria macarrão al sugo e ele.
Tuitou o recado do jantar. O mesmo restaurante,  mesmo horário: melhor não começar já assustando.  15 respostas rápidas de Ipads, Ipods, Smartphones, Notebooks, PCs. Uma vida praticamente Miojo, filosofou.
E vamos passar a fita para a frente, por favor. Não, não, ela não ficou horas escolhendo o vestido, nem o sapato e nem fez cara de desesperada em frente ao espelho. Esqueceram que ela era a decidida?
O garçom chegou.
- Prontos para pedir?
Ela foi a primeira:
- Eu quero um belo prato de spaghetti al sugo.
O mundo parou naquele momento e tal. Entretanto, lenga-lengas geralmente são para livros que depois que viram filmes, freqüentemente são cortados porque um filme custa muitos milhões de dó… euros, por assim dizer. Só um adendo: ele foi o único que delicadamente passou sua mão invisível bem na sua nuca. Ninguém viu, mas ela sentiu e ele também. Ô  calor!
E o macarrão chegou: lambuzado, quase que erótico, como se Like a Virgin tocasse ao fundo.
- Garçom, por favor, me traga uma faca.
O garçom trouxe a faca e ela, naquele momento, era grande, enorme, poderia matar 10 pessoas, mas só matou a fome dela, do decote do seu vestido preto em V profundo e da toalha. Um batalhão, praticamente!
A conta chegou. Geralmente rachavam, mas não ia rachar nada. Rachar, sim, a cara daquelas caras de eu não acredito que ela matou o macarrão, ok, mas rachar vinho espumante que ela não tomava, nem pa… chega!
- Oh garçom, você cobra o meu separado aqui ó ( e foi entregando o cartão 5 estrelas toda orgulhosa). Não esquece de colocar uma boa gorjeta para ti, hein! Eu faço questão, já que eu é que comi o macarrão do jeito que eu queria e não como os outros acham que eu deveria e foi você quem trouxe a faca, AMIGÃO.
Ah, malandra! Então, era ela, ele e o macarrão: como um abraço imensurável que inseparavelmente sela e… mela!

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Sobre reinventar-se.....em um mundo cada vez mais cego!

"Foi quando tu chegaste que descobri meu solo e minha pátria, que deixei o exílio e dei um nome à terra de que sou feita. Porque tu tens uns olhos que se perderam no mar e voltaram depois das tempestades com a dor de quem mais uma vez pôde ser salvo. Porque teus braços me resgataram, neles desfiz minhas fronteiras e me tornei contigo um mesmo horizonte que junta infinitos de céu e água. Porque tua voz me conta coisas outras enquanto falas e tu sabes o que eu ouço e não temes que eu saiba sobre todos os teus medos. Porque tu dizes meu nome de olhos fechados, afundado em minha carne e a noite toda lateja dentro de mim e o ruído do mundo cessa para que eu possa me lembrar só da tua voz dizendo o meu nome longe de todas as coisas. Porque tuas mãos falam a língua da minha pele e enfeitam meus cabelos de pequenas conchas e musgos para que eu encontre os sentidos que eu supunha naufragados para sempre. Porque eu já não poderia me entregar a mais ninguém sem voltar a ser estrangeira em mim mesma, sem ser de novo uma estranha atrás de meus próprios olhos, sem desertar para sempre do meu corpo."
(Ticcia)


Então, a gente torna-se mãe, mas o que é tornar-se mãe? Estamos lá, grávidas, nos preparando para o dia que aquele ser virá ao mundo. As pessoas nos dizem durma bastante, descanse, leia tudo sobre parto normal, se não foi normal, não é parto... e muitas outras coisas: umas bárbaras, outras lindas, mas quem definirá que tipo de mãe seremos, ou melhor, que queremos ser? Um grupo de mães, nossa própria mãe ou nós ou o nosso íntimo?
Não, não é uma tarefa fácil. Mas não vou me esquecer do conselho de uma amiga, também psicóloga, que me disse com todas as palavras "você terá a sua essência aí dentro e dará conta." 
Dito e feito: no começo foi confuso, queria que queria ser igual. Ter aquele parto, aquele médico, dar o peito 24 horas, queria que ela ouvisse música clássica, não visse televisão, muito menos tomasse suco de fruta. Mas era eu quem queria? Quem queria? Não, não era eu. Eram os outros! Com o segundo filho, tudo ficou mais claro e forte aqui dentro de mim: a família é minha, os filhos são meus e, dessa forma, sigo  firme, forte e confiante. Dentro dos nossos padrões, ou melhor, meu e do meu marido alemão o que já vale um artigo porque criar filhos com alguém que vem de outra cultura, pode ser muito engraçado... quando não estou na TPM!
Lendo o artigo da Fernanda e o texto da IPLA, fui remetida também ao filme ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA. , inspirado no livro de Saramago, que conta a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam." Bem forte isso: onde estão os seus olhos? O seu ponto de vista?
Dessa forma, insisto nisso: não há regras, há informação ( é preciso se informar, é preciso saber dos benefícios e malefícios de decisões arbitrárias ou não) e aí sim uma maternagem consciente, mas a Fernanda fala disso tudo muito, muito melhor do que eu!

Nascemos nus e nos tornamos o que a gente quiser!
Por Fernanda Oliveira

Essa semana li o texto do IPLA – Instituto da Psicanálise Lacaniana, “Nascemos nus, o resto é drag”   e fiquei pensando sobre nós, mães.
O texto fala sobre nos desvincular da expectativa do outro e sobre a invenção de cada um e relacionando com a maternidade na contemporaneidade fico pensando como somos cobradas de como devemos ser mães, quais os cuidados que devemos ter pra não surtar e sermos as melhores mães que temos condições de ser.
Acredito que com o advento da internet, estamos cada dia mais presas as imagens do que é ser uma boa mãe e consequemente quais os papéis e quais os comportamentos uma mãe deve ter. O quanto hoje vivemos uma ditadura da maternidade, como somos julgadas e condenadas porque amamentamos ou não, se já demos açúcar ou não, se vai pra escolinha ou não e por aí vai.
Diante de tantas possibilidades que a maternidade nos apresenta, como devemos nos portar? Acredito que o caminho é mesmo a construção a partir de nós mesmos, o que nos é minimamente possível e desejoso, o que gostamos ou não de fazer e penso que o quanto de investimento é possível e suportável para cada questão a ser apresentada na maternidade.
Somos seres mutantes e singulares, a questão é como viver plenamente nossa singularidade. Os estereótipos nos quais estamos presos, nos tornam mais preconceituosos e exigentes com a gente e com o outro. O quanto estamos realmente livres para sermos as melhores mães que podemos ser?
E quando surtamos, que possamos nos perdoar e aceitar que não é fácil pra ninguém e que temos o direito de não darmos conta de tudo que somos impostas e nos impomos. Surtar, inclusive, muitas vezes é a única possibilidade de pedir ajuda e por pra fora tudo aquilo que nos aflige e nos sufoca e que ser mãe nos dias de hoje é mais do que isso, ser mãe é demanda de amor e de compreensão, principalmente das outras mulheres e das outras mães.

Fernanda é psicóloga clínica na abordagem da Psicanálise Lacaniana (CRP: 06/117419), formada pela Unicastelo. Mineira, do Vale do Jequitinhonha, reside em São Carlos há 20 anos, de uma família grande de 7 irmãos. Pisciana, 34 anos mãe de uma pequena de 3 anos e meio que procura criar para ser feliz. Adepta da criação com apego, a favor do parto natural e da amamentação em livre demanda. À favor de ser mãe, na possibilidade de ser a melhor que consigamos ser. Como ela próprio diz: “sem neura e sem crise (risos!) porque o negócio doido é a dosagem, uai!”
Decidiu estudar psicologia para se entender e entender o mundo e porque acredita no poder de sermos protagonistas de nossas vidas.
Atende crianças, adultos, individual, grupo, familiar e de casal na Rua Paulino Botelho de Abreu Sampaio, 1040 (Rua da Santa Casa, 3 quarteirões para baixo, sentido USP) na Clínica 
Rossiti.  Telefones de contato: (16) 99188-3487/ 98819-7068 
email: psico.fernandaoliveira@gmail.com