Eu lembro de como era a nossa vida antes de termos
filhos.... Aí você estava me olhando, mesmo com a câmera fotográfica, captando
momentos, momentos justamente que nunca mais voltariam. Será que algum
casamento volta a ser como era antes? Ouço, enquanto escrevo, uma das nossas
músicas favoritas. Lembro que mesmo distante, você na Alemanha, e eu aqui no
Brasil eram recados, presentes, eram palavras de amor dia e noite, noite e dia.
Cada vez que o levava a rodoviária eu escrevia uma carta para você ler durante
a viagem e depois no avião. Passamos por poucas e boas, até separar nos
separamos, mas você ficou firme e forte e foi uma, se não a única pessoa que
cuidou de mim. O restante sumiu: amigos, parentes.... A única visita que eu
recebia, a única pessoa que levava as minhas balas favoritas.... Então, fomos
lutando juntos, fomos retornando, tentando solidificar o que já existia, foi a
luta para engravidar (muita yoga, homeopatia, reiki, constelação sistêmica,
persistência, exercícios físicos para desintoxicar meu organismo de todos
aqueles remédios que nos fazem acreditar serem vitais e altamente necessários…)
e aí veio a notícia. Você estava na Indonésia. Lembro que tive enjoos, mas já
achava impossível engravidar, oras.
Escrevi no facebook e nunca vou esquecer que uma amiga, a Gra, escreveu:
"amiga, você está grávida!"
E eu ri...Porque eu já tinha muitas, muitas dores nos seios,
mas achava que eram os sintomas comuns que eu tinha sempre antes de menstruar.
Mas não era: era a Glória.
Era como comer o melhor chocolate, ter orgasmos sem parar,
como rir com as amigas sem motivo, era como estar no meio de monges do Nepal,
era como comungar, como comer quando se está com muita fome ou tomar água
quando se está sedento. Era como ter Deus me dando as mãos o tempo todo.
Ela veio, ela veio. Foi uma luta para trazê-la. Mas ela
veio. Ela está aqui.
Lorenzo veio logo depois. Engravidei dele quando a Gloria
estava com apenas 6 meses. Foi um susto. Foi uma gravidez difícil, cuidando
dela, cuidando de uma casa enorme, lavando, passando, cozinhando, tendo sido
abandonada pela ajudante, com o marido fora do País.... E ela tendo febre,
reação da vacina.... Eu já não era rainha faz tempo. E eu não tinha o
reconhecimento que eu esperava ter. Nunca mais tive. Minha obrigação. O melhor
pai do mundo, sem igual: lava, passa, cozinha, os filhos são loucos por
ele...mas talvez seja eu, os hormônios.... E eu só queria uma florzinha….
Eu já não sou faz tempo.
Filhos choram, demandam atenção, tempo... Tem quem me ache
dondoca porque tenho ajudante, porque tenho babá, mas que essas pessoas se
danem. Porque essas mulheres que me ajudam, dizem que nunca viram uma mãe como
eu, que enquanto elas seguram o Lorenzo no colo e a Glorinha brinca, eu estou
aqui passando o aspirador e o pano no chão ou fazendo almoço. E a baba disse
que também nunca viu uma mãe que contrata babá para ficar junto 24 horas. Essa
sou eu.
Tudo mudou. A gente ouve cada coisa e, pior, ouve de pessoas
que preferem acreditar em outras que sequer conhecem há tempos. Pior ainda: mal
sabem elas o que essas mesmas pessoas dizem dela e se acham no direito de fazer
maldade, mas oras, o importante é a gente saber quem somos, onde vamos e o que
queremos...
Então, essa sou eu, meio down, meio alegre, me cuidando....
Indo atrás . Tendo depressão pós parto... e a coragem de te dizer que vamos dar
conta. Que eu é que tenho que ser a minha rainha, não deixando de acreditar que
há mulheres e mulheres....
Esse é meu desabafo e não tenho medo da exposição porque foi
assim, conversando com mulheres que eu sequer conhecia, em lugares diferentes,
em Países diferentes, que eu encontrava algum tipo de força. Porque eu me abro
ao Mundo para receber o que ele tem a me dizer. Ou Deus! sei lá... e talvez
essa "abertura" possa te dizer que estamos aqui, juntas...e vamos
conseguir! E desabafo aqui, como se eu fosse a pessoa que você, assim como eu,
estivesse sentado ao lado em algum lugar público, começasse a puxar conversa e
ouvisse tudo o que eu já ouvi e te animasse a seguir, sempre em frente, a ir
atrás da sua vida, parar de se anular, perder tempo com pessoas que tem inveja,
ódio do que você tem e elas não (mal sabem elas que o material não quer dizer
nada, mas daí vem outros que dirão “você escreve isso porque não tem
preocupações financeiras.... Ah, minha filha, nunca vamos agradar ninguém).
Vá fazer sua vida, cuidar dos seus filhos, mas sem esquecer
que eles crescem e irão (se Deus quiser porque ter filhos com 30 e poucos anos
em casa esperando mesada e roupinha limpa, me parece extremamente depressivo e
triste!).
Vá estudar, vá batalhar, vá criar. O tempo passa, voa... e
vou. Eu quero ir. Vamos juntas?!