quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Um pedaço de céu perto da gente: dica de passeio!

Estive no paraíso esse final de semana e, acreditem ou não, o paraíso não fica longe. Nem em Fernando de Noronha, nem em alguma praia paradisíaca e inacessível, muito menos no Himalaia.
Um lugar que sempre vou (quer dizer, ia mais quando não tinha rebentos que demandam colo, mas juro que foi muito mais divertido com meus filhos!).
Mas vou manter o ar de mistério. Uma cidadezinha gostosa, com um arzinho fresco, um vento delicioso. Parece que a gente entra lá e ouve: “olha, lá vem o sol e vai chegar novo dia. Lá vou eu inventar esperanças de novo. Passarinhos e carros na mesma avenida. É o cenário da luta diária de um povo. Nessa altura da vida eu não acho direito. Passar noites em claro, assim, relembrando. Fico eu, no meu corpo, de um lado pro outro. Te adorando, vida minha. Te adorando...”
Descobriu?!
Sim, a cidade do cantor querido Daniel: Brotas. Uma cidade que sempre me acolheu em todas às vezes em que estive lá e foram vários os momentos. Foi lá que encontrei o meu segundo vira-lata, o Dudu. Momentos em que descansei, fiquei deitada na rede, vendo os coelhinhos se deslocarem de um lado para o outro em perfeita e simples união.
O nome do recanto é Hotel Fazenda Jacaúna. Não é a primeira vez que vou, nem a segunda, mas a terceira e poderia ser a sexta, a sétima dada a beleza do lugar.

Já chegamos lá e logo na entrada damos de cara com um mini zoológico com ANIMAIS SOLTOS dentro do espaço enorme, por sinal destinado a eles. Agora, imaginem a cara da Glorinha vendo animais soltos e bem-tratados em uma área verde gigante e não nesses zoológicos terríveis que os animais ficam trancafiados (não me convidem para ir a zoológico porque não vou. Não adianta. Para mim, animal deve estar solto. Não vou nem me pagando!) ?!
As casinhas
Verde, muito verde, pequenas casinhas para quem se hospedar. Mais área verde, coelhinhos soltos por todos os cantos. Pretos, brancos, marrons, malhados. Três piscinas, sendo uma climatizada e outra para crianças. Um restaurante rural com forno a lenha. Passeio de charrete, rio para pescar. O que mais esperar da vida, senhoras e senhores por um preço simplesmente maravilhoso?

E eu observando a carinha da minha filha sem conseguir acreditar que tudo aquilo era liberdade, era para ela aproveitar.





Entramos no quarto e que delicadeza: para quem tem crianças pequenas eles disponibilizam a caminha e até uma banheirinha.
Coisa mais linda. Quartos com ar-condicionado, com ventilador, com uma ducha maravilhosa.
Na frente da casinha, uma rede que Lorenzo e Glorinha se divertiram para valer. Até pensar em onde estender as roupas molhadas: um mini varalzinho lindo que dá a sensação de estarmos em uma comunidade de gente fina, elegante e sincera. Nada daquele monte de toalha, maiô pendurada em banheiro... Sol, sol em todos os cantos!

Almoço delicioso.... Todos tinham almoçado, né... mas mãe sempre fica por último. Então, cheguei lá verde de fome porque enquanto eles descansavam antes de irmos, eu terminei de arrumar a mala (e preparar mala com duas crianças e um que baba só de abrir a boca, dá trabalho e dá-lhe roupa, babador), limpar cozinha, colocar tudo dentro do carro. Ufa!
Me fartei, sai da dieta. Comida quentinha, mineira.
E depois, fomos para a piscina. Levamos o balde que comprei para o Lorenzo e alternávamos colocando ele ora na piscina ora no balde com água e brinquedos. E como amaram, aquela piscina quentinha... Glorinha logo fez amiguinhos e ria e ria e me fazia rir por dentro, por fora, massageando todos os meus órgãos internos tamanha minha felicidade.

Jantar maravilhoso também. Comida rural mesmo. Café da manhã idem. O lance é tão legal que você mesmo prepara seu ovo e tem a experiência de ver como fazer isso em um fogão a lenha. Demais! Mostramos todo o processo a Glorinha que comeu tudo como nunca. Um buffet vasto com frutas, pães variados, queijo, café, suco, iogurte e uma vista que eu juro que poderia dar meu último suspiro e .... feliz, mas calma, tenho dois filhos para criar, né, gentiii!
Funcionários educadíssimos. Sempre dispostos a ajudar. Precisava de água quente para a mamadeira da madrugada do Lorenzo e outra garrafa térmica para o leite da Gloria que ela toma antes de dormir. Que coisa linda eles deixarem tudo preparado para mim. Tudo com muito carinho. Assim como esquentavam a comidinha do Lorenzo. Fora isso, há uma área social onde eles tem um micro-ondas para quem quiser aquecer a comidinha do bebê ou outra coisa. Uma brinquedoteca com alguns brinquedos e até livros para quem quiser emprestar.

Os próprios donos do estabelecimento sempre estão por lá. Gente do bem, que conversam com os hóspedes.
Sem palavras!
Não queríamos mais ir embora. É como se tudo aquilo fosse revigorante ao extremo, pisar naquela grama, ver os coelhinhos, os pássaros se alimentando.
O galo, macacos. Tudo bem feito, limpo, com pessoas do bem. Redes por todos os cantos para descansar, até pula-pula para crianças.

Foi difícil dizer adeus.
Queremos voltar logo.
Voltaremos logo...
Parabéns fazenda Hotel Fazenda Jacaúna, já é a terceira ou quarta vez que vou até aí e todas às vezes eu me surpreendo positivamente.





sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Porque hoje é meu aniversário....


Hoje é dia de lembranças....
eu e Tiago na casa dos meus tios: melhores momentos da infância!

Alguns dos melhores momentos da minha vida foram passados ai, na casa da minha tia Lúcia e do meu Tio Nelio.
Quantos bolinhos de chuva, pulos na piscina, brincando com a Tusca, passeando de carro.....
A família inteira reunida todo santo sábado para tomar café e se divertir, sempre todos bem-recebidos pelos meus tios que sempre ajudaram e ampararam tantas pessoas com carinho, com a casa deles e com outras coisas também.
Aí na foto acima está meu primo Tiago....primos que são irmãos. Que viveram aqui comigo, de quem eu cuidei, mesmo novinha. Felipe e Bruno eram meus filhotinhos. Eu, uma menina, que já tinha que ter tanta maturidade e ai acho que desbundou um pouco quando ficou mais velha, mas ainda bem que encontrou um alemão cujo amor sempre foi tão grande que nunca desistiu de mim.
E me levou para ver o Mundo, as pessoas, me levou para ver outros povos, outras culturas, outros pensamentos e filosofias provando a mim o quanto eu ainda tinha para aprender e perceber. Que o mundo é maior do que roupas de grife, posses, pose, que o mundo é maior do que o nosso umbigo, que é preciso ampliar os horizontes e me fez mãe, quando muitos achavam que nunca eu poderia ser mãe. Mas eu fui. Fui e sou mãe duas vezes. Fui na raça. Horas e horas de trabalho de parto. Longos dias. Longas noites, mas fui e faria tudo de novo, talvez com um médico diferente, mas faria. 
Fui mulher para aceitar minhas cesáreas. E dar a volta por cima e depois de uma semana estar na ativa, de volta a vida.
37 anos se passaram. 
Eu aqui, depois ter passado por locais e lugares e por pessoas que me levaram para os locais mais baixos e tristes, que consegui me afundar dentro de mim mesmo, consegui renascer.
Alguns dizem que a maternidade muda. Mas acho essa afirmação um pouco machista e impositiva: a gente é que muda. Não acredito que há mulheres que mudam, há mulheres que se adaptam. Eu mudei. 
Foi realmente um divisor de elos na minha vida. A dificuldade emocional de ficar grávida, de aceitar que tudo poderia ser diferente do que vivi, que daria conta. O medo, o pensamento que eu teria que aceitar que seríamos mais nós duas, mais do que nós três. Pensar que meu marido não seria só mais meu. O marido que me fazia café da manhã todos as manhãs quando estava por aqui, cujos olhos brilhavam ao me ver. Eu era única (continua sendo!), mas de um jeito diferente. Descobri que devo ser única para mim!
Então, aos 35 anos lá estava eu, grávida da Glorinha. Um nome forte, a certeza que não poderia ser outro nome além desse. Glória cheia de graça, de formosura, de luz. E de energia!
Glória que me fez abandonar hábitos, pessoas que me faziam mal, muito mal porque eu deixava que assim o fizessem. Gloria que me ensinou a rir todos os dias, ler tudo sobre maternidade e descobrir que nada daquilo me interessava além de ter a minha maneira de educar, de amar, que meu instinto de mãe estava lá. 
Isso parece sofrimento?! Vânia e eu: você foi essencial!

Na verdade, essa mãe estava se formando em cada contração na Casa de Saúde. Eu, leoa, tentando parir, sem saber que tinha aquela força dentro de mim. Foram as contrações mais importantes que tive. Não que já tinha sentido isso antes, nada se iguala, mas passar por todo esse processo de mulher selvagem me mostrou do que sou capaz.
6 meses depois, lá veio a confirmação da gravidez do Lorenzo. Um teste de farmácia que mostrava uma linha forte e outra mais ou menos, mas que eu tinha a certeza que sim, que estava grávida. Fiquei grávida lá na Alemanha. Um menino que foi concebido lá, no País do pai: não poderia ser mais perfeito. Não, não poderia!
A caminho....o Ben que depois virou Lorenzo!
Desespero define.
Como dar conta de duas crianças?
Ah, quantos pensamentos me invadiram.
Sozinha eu decidi que o teria, que levaria até o fim. Já era meu, já fazia parte de mim. 
E assim fomos seguindo.
Foto by Eloisa Souza.... meu primeiro ensaio de gestante...e dela também... Por isso será sempre inesquecível. fotógrafa de produtos que decidiu se aventurar por esse novo mundo....e deu certo! Muito certo!
Nós três: eu, Glorinha, Lorenzo e os locatários....
Dudu, Preta, a casa... deixada na mão no meio desse turbilhão por alguém que confiávamos tanto, mas a gente tem que se bastar. Simples assim.
Calor, um bebê gigante no meu ventre, Glorinha que era um bebezinho. Mas lá íamos nós ao clube, ao SESC, onde quer que fosse... E lembro dela sentadinha no carrinho, quietinha, me observando fazendo a limpeza na casa ( coisa que com o Lorenzo é impossível. Colo, colo, e mais colo).
E aí chegou a grande hora e também fiz de tudo. Ficamos em casa até o último minuto, contratamos doula, enfermeira para fazer exame de toque, passei também dias entre risadas, choro, felicidade e uma certeza quase que palpável que ele não desceria também e que eu teria que aprender algum dia que eu não posso controlar tudo e todos (confesso que ainda não aprendi. Talvez com o terceiro!). 
Então, ocitocina na veia já na Casa de Saúde, dor que me rasgava, chá de canela ( esse sabor que nunca sairá da minha mente) e de novo, eu repito, eu faria tudo de novo,  mas não teria usado ocitocina, nem ficado tanto tempo tentando provar que eu conseguiria, que mostraria o tal do dedo ao sistema cesarista, mas ah a vida, minhas queridas... a vida é assim, você planeja tudo, mas ter a humildade de aceitar e digerir que não temos poder sobre nada, nem ninguém. Aí a gente sai do processo de humanização e cai nas armadilhas do provar aos outros que somos capazes e tudo se torna desumano, muito para te falar a verdade.
Chegando ao ponto de te fazerem acreditar que você não foi até o fim DE VERDADE e só colocam fotos na fan page de quem teve parto natural: uma total inversão de valores e desmerecimento àquelas que realmente fizeram de tudo e um pouco mais para darem a luz.
Hoje eu entendo que dei a luz SIM. E foram duas vezes que senti o poder de passar por dois processos e ter a minha autonomia de decidir que aquilo tudo já era demais. 
Exame de toque: 9 centímetros, mas um edema que não permitia que Lorenzo descesse. Bolsa estourou, achamos que era ele que estava saindo, mas não... era a bolsa. 
Cansada, doída, exausta, as enfermeiras me embalavam, me seguravam pelos braços enquanto o médico dito humanizado entrava pela porta, sem olhar nos meus olhos, sem me dizer "minha querida, você foi forte, fez tudo e agora é hora de prosseguir."
O que ele fez foi apressar a equipe porque, oras, muitas mulheres estavam esperando por ele no consultório para falar sobre parto humanizado, mas de humanizado o que ele sabe?
Absolutamente nada!
Só me lembro de uma enfermeira que ousou dizer ao todo poderoso que eu mal conseguia andar de dor de contração, de ocitocina correndo nas veias, de sangue escorrendo pelas pernas, de cansaço.... Tudo tão errado. Eu só queria um abraço e elas, as mulheres, me abraçaram porque estavam lá durante todo o processo vendo (e também sentindo) minha dor e por essa e outras razões que ainda acredito que mulheres podem e devem ser parceiras.
Me levaram a sala de cirurgia e qual era a minha vergonha de sangue sujando tudo.... mas Deus colocou suas mãos no anestesista que foi de uma delicadeza tão, mais extrema e de uma rapidez power para me livrar de toda aquela dor física que eu, mesmo sedada, desfalecida, olhei para ele e disse: "como você é educado! Obrigada, obrigada, obrigada!"
E lá estava eu, revivendo a mesma situação...

E Lorenzo veio, mas não, não veio direto para mim. Foi direto para a incubadora. E também nos fazem acreditar que o pacote todo inclui ir direito para o peito....Quanta bobagem nos fazem acreditar e a gente engole sem ao menos pensar, refletir. Eu fiz o mesmo, mas, ao mesmo tempo, eu sempre acreditei e confiei demais na médica pediatra que recebeu a Glorinha e o Lorenzo. Então, minha querida, ele não poderia ir direito ao seu peito. Sorry, ces´t la vie, keep walking, pÔ!
Mas logo, ele estava lá comigo e com o Dirk no quarto. Vânia, a nossa doula, ficou com a gente o tempo todo. Foram momentos que eu nunca vou esquecer. Aquele serzinho chegando ao quarto. Eu e ele.
E então, Dirk chegando para me ajudar a alimentá-lo. Dirk exausto, mas firme e forte pegando meu peito e ensinando aquele serzinho a sugar o meu leite.
Patricia: gratidão eterna!
E como esquecer de você, Patricia, que cuidou da minha filha: que a alimentou, deu banho, dormiu com ela.... o que teria sido de mim sem você? Que me fez relembrar como era dar banho em bebê, que me disse que tinha que limpar por debaixo do "saco" também...
Você, mil vezes você.
Quem sabe um dia...ou não!
E hoje cá estou, completando 37 anos.
Uma vida intensa, de muitas loucuras, de muitos erros, acertos também.
De pessoas certas e muitas erradas também. 
De amores cão, de paixões fulminantes que me fulminaram, de um cara que não desistiu de mim assim como eu não desisti dele.
Por que eu contei toda essa história?
Porque eu fui para tantos lugares, até em ashram na Índia para me ver por dentro, me curar, porque eu às vezes queria voltar ao útero da minha mãe (?), MAS foi aqui, com meus filhos que tudo mudou e mudou de forma drástica.
E, finalmente, apesar de exausta, sou feliz.

'Porque "foi sempre assim, não foi, Tempo? Eu lá adiante e tu cá atrás. Eu envelhecia rápido enquanto meu corpo deveria ainda estar crescendo, adultescia mais do que os adultos ao meu redor, aprendia teus mais duros ensinamentos antes mesmo da vida ter me alfabetizado como deveria. Depois, mais descompasso, na tentativa de encontrar-te de volta, no elementar, no básico, tu já havias me ultrapassado. Eu em busca do tempo de ser cuidada, e tu já não me davas mais este direito. Apontavas-me de lá teu dedo implacável da auto-suficiência, enquanto eu era uma menina que não sabia o que fazer de mim. 
Nunca entendi as tuas certezas, Tempo, nem o tempo das certezas dos outros. Sempre estive muito longe - ou na instantaneidade do óbvio, ou na intransponibilidade da ausência. Sempre eu, atrelada à aanacronia atávica. Sempre eu, na inadequação cronológica. Sempre eu, muito cedo ou muito tarde. Sempre eu, intempestiva. 
Por isso venho a ti, Tempo, cansada de perseguir-te. Te peço que me ensines teu ofício, este em que as horas não doem, em que os instantes vivem e florescem sem peso ou bruma, em que os momentos às vezes sobrepõem os anos, mas em que os anos passam nos fortalecendo o andar. Pega-me no colo, Tempo, mostra-me teu rosto, faz-me entender que tu não queres fugir e que eu não posso apreender-te. Dá-me a tua mão, Tempo, leva-me a teu lado. Mostra-me de novo e de novo e de novo que não há para onde ir, a não ser estar aqui e agora, junto de ti." (Patrícia "Ticcia" Antoniete)



FELIZ ANIVERSÁRIO PARA MIM, PARA A GENTE!



Pelos amores felizes, pelos dias melhores, pelas amarras desfeitas, agora e para sempre, amém!




sábado, 19 de setembro de 2015

Mães que dançam...

"Ela é o meu cabelo curto, o esmalte descascado na minha unha, as olheiras no meu rosto.
Ela é o brinquedo espalhado pela sala, é o melado no controle remoto,
Ela é o farelo no sofá, as tesouras e quadros no alto.
Ela é a marca de mão nos móveis, o embaçado nos vidros.
Ela é o ventilador desligado,
a porta do banheiro fechada, a gaveta da cômoda aberta.
Ela é as frutas fora da fruteira, os plásticos amarrando os armários.
Ela é o valor do trabalho, a vontade de aprender, a minha força, a minha fraqueza, a minha riqueza.
Ela é o aperto no meu peito diante de uma escada, é o cheirinho no meu travesseiro.
Ela é o vazio triste no silêncio de dormir,
o meu sono leve durante a noite.
Ela é o meu ouvido aguçado enquanto durmo.
Ela é o arrepio quando me chama, a paz quando me abraça, a emoção quando me olha.
Ela é meu cuidado, a minha fé, o meu interesse pela vida, a minha admiração pelas crianças, o meu amor por Deus.
É o meu ontem, o meu hoje,
o meu amanhã.
Ela é a vontade, a inspiração, a lição, o dever.
Ela é a presença, a surpresa
a esperança.
A minha dedicação.
A minha oração.
A minha gratidão.
O meu amor mais puro e bonito."

(Nádia Maria)



Porque não?
Olá mulheres, hoje quem vos fala é outra mãe! Outra mulher que escolheu também ser psicóloga, algo que me traz muito prazer, mas que pra sustentar este lugar muitas vezes requer muito, como todo desejo que nos atravessa, deixa suas marcas, suas dores e suas consequências.

Uma delas são os julgamentos e pré-conceitos, porque recebo alguns olhares neste lugar, porque como uma mãe/psico perde a paciência? Ela sabe que não pode gritar? E por aí vai...
Bom, sou psicóloga, sou mulher e mãe, e tenho uma pequena de quase 4 anos que transformou a minha vida. E hoje quero dividir com vocês as delícias de ser mãe dela. Essa semana, depois de trabalhar a manhã toda no consultório, à tarde na Prefeitura e mais um atendimento à noite, fui buscá-la na casa da minha mãe, cheguei lá por volta das vinte e uma, ela estava tomada banho, comeu pão de queijo mineiro feito especialmente pra ela, ou seja, a vovó cuidou maravilhosamente bem, elogiou como é fácil cuidar dela, como ela brincou com a priminha de um ano e meio que passou por lá à tarde e todas as delícias dela ter ficado lá.
Estava uma noite quente, tomei o café da minha mãe, comi alguns pães de queijo e me deu uma vontade de tomar sorvete, adoro sorvete, é a minha guloseima preferida. Coloquei a pequena no carro e fomos nós duas tomar sorvete. Ela tinha que já estar dormindo, porque ela vai pra creche logo as sete e meia da manhã, eu estava cansada, no dia seguinte teria novamente outra manhã de atendimento, prefeitura e tudo de novo, mais um dia com rotina pesada, eu escolhi essa rotina, mas sustentá-la fisicamente e psicologicamente é pesado.
Bom, lá fomos nós duas cantando a música que estava tocando no rádio e chegamos pra tomar o sorvete. Pedi um grandão pra mim porque gosto e gosto de muito sorvete e pedi um “Sunday” pra pequena e ela sorridente ouve uma música tocar e começa a dançar, a balançar os braços e mexer o quadril e olha pra mim  e diz: vamos dançar? Um sorriso grande e cativante, sinto os olhares de várias pessoas no local, famílias, amigas e casais, sinto um leve desconforto, toda produzida de psico, calça de linho, uma  camisa clara, sandálias baixinhas e discretas, mas esse desconforto durou segundos, o convite foi irresistível, dancei...

Dancei pra ela, dancei pra minha criança interior, dancei por aquelas pessoas que primeiro me julgaram, mas depois nos olharam com ternura e carinho... 


Fernanda é psicóloga clínica na abordagem da Psicanálise Lacaniana (CRP: 06/117419), formada pela Unicastelo. Mineira, do Vale do Jequitinhonha, reside em São Carlos há 20 anos, de uma família grande de 7 irmãos. Pisciana, 34 anos mãe de uma pequena de 3 anos e meio que procura criar para ser feliz. Adepta da criação com apego, a favor do parto natural e da amamentação em livre demanda. À favor de ser mãe, na possibilidade de ser a melhor que consigamos ser. Como ela próprio diz: “sem neura e sem crise (risos!) porque o negócio doido é a dosagem, uai!”
Decidiu estudar psicologia para se entender e entender o mundo e porque acredita no poder de sermos protagonistas de nossas vidas.
Atende crianças, adultos, individual, grupo, familiar e de casal na Rua Paulino Botelho de Abreu Sampaio, 1040 (Rua da Santa Casa, 3 quarteirões para baixo, sentido USP) na Clínica 
Rossiti.  Telefones de contato: (16) 99188-3487/ 98819-7068 
email: psico.fernandaoliveira@gmail.com
 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Você precisa de coragem para enxergar a criança que você é...ou foi!

Digo que dessa vez minha terapeuta, Simone Ferreira Domingues, foi quem me escolheu, me acolheu.
Tem sido uma (re)descoberta de vida. Na verdade, a maternidade tem me mostrado o quanto sou responsável por minhas emoções e quanto meus filhos precisam que eu me cuide, tanto espiritualmente, quanto psicologicamente e fisicamente.
como me sinto na terapia: na frente de bolhas de sabão...
Para muitos ainda, a terapia é ainda carregada de preconceitos... coisa de gente louca. Se assim o for, como é bom poder ser louca e ter uma pessoa que nos ouve, sem nos criticar, sem nos julgar. Apenas de forma serena e clara nos mostra que há um manto por cima de cada palavra. Dói retirar esse manto, machuca, às vezes chegando a causar morte súbita para depois se respirar como se tivéssemos por anos vivido em coma total e dentro de um rio, sem poder respirar: peixe quase morto, morto-vivo... que vai levando a vida dentro de um espaço quadrado e egocêntrico...
Que responsabilidade comigo ir até lá toda semana e me desconcertar, me reestruturar, provar do meu próprio vinho e veneno por assim dizer.
Qual não foi minha surpresa quando, 10 minutos antes de terminamos a sessão, ela falou: "Leia esse texto que eu seguro o Lorenzo" (sim, tem gente que pode ser extremamente delicada e receber seu filhote. Isso , graças a Deus, acontece comigo na dentista, na terapia. Temos um caminho gigante a trilhar para mães com filhos pequenos serem recebidas em todos os lugares de braços abertos e com os choros, birras e tudo o mais que uma criança reserva!).
E eu li, reli, li de novo e lágrimas brotavam por dentro, por fora, mas pela primeira vez, com quase 37 anos, eu percebi que estava conseguindo ir alem, que sei onde quero chegar.
Cuidar de mim para cuidar dos meus filhos. Cuidar da minha criança interior e acreditar que posso ser o que eu quiser. Tem sido difícil, mas tenho saúde, tenho vontade de melhorar como mulher, ser humano, como mãe, esposa, dona de casa, profissional, blogueira. Mil projetos na minha vida que eu farei acontecer.
Então, aqui compartilho desse texto....
Quem se identificar, fica aqui meu coração!

VOCÊ PRECISA DE CORAGEM PARA ENXERGAR A CRIANÇA
Você precisa olhar para a criança, escutar o choro dela, escutar o que o choro quer dizer para você. Precisa compreender a criança, legitimar seus sentimentos, valorizar seus desejos e acolher seus medos. Você vai precisar conseguir fazer isso, olhar para a criança e aceita-la, sem críticas, sem ressalvas nem expectativas.
Vai precisar olhar para a criança e achá-la bonita, mesmo quando foi dito que ela era feia, acha-la inteligente mesmo quando disseram que não era, e ao fazerem isso, não pensaram nas marcas que deixariam em sua auto estima.
Vai precisar olhar para a criança e acha-la esperta, sabida, mesmo quando foi comparada com outras e disseram que as outras eram mais espertas, mais sabidas.
Você vai precisar olhar para a criança e dizer que não, ela não é tímida, bicho do mato, ou raivosa, nem ciumenta, nervosa ou mal educada, nem frágil, lenta ou rápida, nem acima ou abaixo da média; que isso tudo foram rótulos que soltaram sem pensar no mal que causariam para a criança. 
Você vai precisar olhar para a criança e confiar nela, mesmo quando os pais disseram que ela não conseguiria, mesmo quando os professores duvidaram, mesmo quando todos desacreditaram, mexendo para sempre com sua auto confiança. 
Você vai precisar ter coragem para olhar para a criança e compreender que as palmadas, as surras, os castigos físicos e psicológicos não fizeram nenhum bem. Mas deixaram humilhação, solidão e tristeza como herança.
Você vai precisar de muita coragem para olhar para a criança e enxerga-la sozinha, sem olhar atento, sem colo amoroso, sem beijo carinhoso, sem toque, sem sensações. 
Vai precisar de muita coragem para olhar para a criança e enxergá-la assustada, com medo, com lágrimas, desejando um abraço e recebendo olhares bravos ou indiferentes. 
Você vai precisar de muita força e muita coragem! 
Pegue uma foto sua de quando era criança. Pois é desta criança que estou falando. 
Estou falando da criança que você foi um dia! 
Pode olhar para o espelho, e buscar dentro de você os resquícios da criança que você foi.
Da criança que não recebeu o que precisava, da criança que ainda hoje tem medo de pedir mais do que tem, da criança que até hoje tenta se contentar ou se conformar com o que recebe, como se isso fosse o máximo que a Vida pode oferecer para uma criança feia, pouco inteligente, tímida, raivosa, ciumenta, manipuladora. 
Da criança que até hoje tenta CORRESPONDER as expectativas dos outros, tentado ser ainda a melhor, a  mais rápida, a que consegue fazer mais coisas ao mesmo tempo, anulando a si mesma e vivendo sob terrível pressão.
Você vai precisar de muita coragem para lembrar de verdade sobre algumas coisas do seu passado, da sua infância, da criança que você um dia foi. 
Vai precisar ser forte, para conseguir lidar com a dura verdade de que grande parte do que você pensa sobre si mesmo, está ligado ao que os outros pensaram sobre você desde a infância.
Vai precisar ser muito forte, para descobrir que a maneira como você SE enxerga está relacionado a maneira como os outros o enxergaram. Vai precisar de muita coragem para legitimar seu sofrimento infantil e lidar com o medo de sentir raiva  dos seus pais, dos seus tios, dos seus parentes, dos seus educadores. 
Vai precisar de muita coragem para lidar com os sentimentos que experimentou e com a mágoa que descobrirá dentro de você, que tem raízes na infância.
Você vai precisar ser forte para olhar para a criança que você foi, e compreender que na infância foram lançadas as sementes dos seus medos atuais, da sua falta de jeito em se relacionar, das suas más escolhas na vida amorosa, da sua insegurança na vida profissional.
Você poderá descobrir que talvez também tenha sido na sua infância que lançaram as sementes da sua dificuldade em lidar com seus próprios filhos do jeito que você gostaria, do jeito que você racionalmente sabe que é o melhor jeito, mas que na prática parece inatingível.
Você precisa olhar para a criança que você foi. 
Abraça-la, acarinha-la, dar para ela a compreensão que ninguém nunca foi capaz de dar. 
Vai precisar dar colo para esta criança.Você vai precisar ser capaz disso, de fazer as pazes com a criança que você foi. Com a criança que ainda está dentro de você, e continua com medo de desafiar, de decepcionar, de magoar, de errar, e por isso não tenta, não ousa, não evolui, não cresce, não se liberta e não é feliz...
Se você conseguir olhar e enxergar a criança que você foi, em tudo que recebeu, mas também em tudo que faltou, talvez você consiga oferecer para ela aquilo que ainda falta, e talvez hoje, sua auto estima se fortaleça, para que a partir de hoje, você seja capaz de ousar, de seguir em frente, para que você seja capaz de amar.
Para que hoje, você seja capaz de estar com seu filho oferecendo para ele tudo aquilo que você mesmo não recebeu e precisava, evitando os erros que marcaram sua vida, mas o mais importante: conseguindo olhar verdadeiramente para seu filho e ser capaz de oferecer o que ELE precisa! 
E ao ser capaz de oferecer o que seu filho realmente precisa, você finalmente estará sendo o pai ou a mãe que gostaria de ser.
Se você conseguir isso, talvez consiga pegar seu filho pela mão e chama-lo para brincar, junto com a criança que você foi um dia, mas que agora encontrou quem você é hoje.
E nesta absoluta e consciente integração, poderão juntos encontrar os caminhos para uma vida feliz. 
Mas você vai precisar ler este texto mais uma vez, e ter a coragem de olhar para a criança que você foi e que ainda sussurra dentro de você, esperando apenas ser ouvida e desejando receber só um pouco de carinho...

(Texto de autoria de Luzinete R. C. Carvalho- Psicanalista ) 

P.S: convém dizer que este texto não serve para todo mundo! Só serve para quem sentir, intuir que a infância que viveu interfere, de alguma forma, em aspectos da vida atual. Se não serve para você, simplesmente ignore, mas saiba que ele pode servir para muitas pessoas, e merece respeito, tanto quanto as pessoas que estão tendo a coragem de olhar para a criança que foram, buscando respostas, buscando a redenção, para se sentirem livres e fortes, e então viverem a vida plena e feliz que merecem.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Lorenzo e a introdução alimentar...

Lorenzo com 6 meses completos. Iniciamos a introdução alimentar. Dizem que o segundo filho traz mudanças que o primeiro ainda não trouxe. Parece meio óbvio, mas é a pura verdade.

Com a Glorinha eu dei muita papinha, tudo muito processadinho. Cortava os legumes bem pequeninhos, colocava para aferventar, depois temperava com um pouco de azeite, batia no liquidificador e voilá: pronto. Assim era com a papinha salgada, assim também foi para a papinha doce.
Suco então eu comecei logo aos 6 meses por muita interferência do pai e também porque na época que ela completou 6 meses, estávamos na Alemanha e lá é muito difícil ter suco de laranja , essas coisas bem naturais. Tudo é processado : não se esqueçam que as melhores laranjas são levadas diretamente para lá. Ficamos com o quase bom, praticamente a laranja lambuzada de agrotóxico.
Lembro que ia ao supermercado e existia uma sessão todinha de sucos, de papinhas diferenciadas e orgânicas por um preço maravilhoso, nada comparado aos preços das papinhas orgânicas aqui no Brasil. Mães alemãs são práticas. Alias, nunca vi uma mulher lá oferecendo o peito em público. Nunca vou me esquecer do dia que fui a um evento com a minha cunhada, Glorinha começou a chorar, eu no meio de todo mundo, coloquei o peito para fora. Ela e minha sobrinha me olharam com a cara mais incrédula desse mundo e me disseram que eu deveria ir a um lugar reservado. Oras, lugar reservado? Como assim?
Mas fui porque sou defensora de boa educação com os costumes das pessoas. Talvez se eu já morasse lá, seria de outra maneira, mas eu tinha sido convidada a um evento, não estava lá para causar espanto ou muito menos comentários.
Então, sentei em uma cadeira e, mesmo assim, elas fizeram uma cabaninha para que ninguém visse os meus peitos livres e leves e soltos.
Minha cunhada, essa que achou desnecessário eu "mostrar os peitos", nunca amamentou. Dizia não ser vaca para dar as tetas. Bem, foi isso que meu marido disse, foi uma constatação que tive. Não considero certo ou errado, mas foi o que presenciei: nada de tetas para fora. Tudo muito civilizado (?), na mamadeira e tudo preparadinho. 
Tirando esse evento, sempre percebi, mas não sei se foi o caso que minha filha teve problemas em comer frutas in natura. Sempre tudo muito mastigadinho, processadinho. Começou agora a desenvolver o gosto por comer a fruta (tirando a maçã, que era uma das únicas frutas que ela comia sem problemas. O resto, não adiantava oferecer que não comia). Acredito que a ida a escolinha que faz questão que as mães coloquem na lancheira a fruta ( que é oferecida antes de qualquer coisa), ajudou e muito. Vendo outras crianças comerem as frutas, ela está percebendo que é legal, que faz bem. Ontem mesmo eu e meu marido tivemos a nossa conversa noturna (momento que conseguimos por no máximo 25 minutos - antes que um acorde ou que nós mesmo, capotemos no sofá) e ele me contou que logo após o jantar (quando ele está aqui, ele é quem oferece o jantar. Eu preparo, ele é quem dá a janta para as crianças, mas tem noites que alternamos), ofereceu uma banana e ELA COMEU. Sim, ela comeu uma banana de sobremesa. Ficamos felizes!
Pois bem, com o Lorenzo adotei o sistema Baby Lead Weaning e tem dado certo. Na verdade, antes dele fazer 6 meses, conversei com a pediatra deles e ela disse que seria legal, mas que também fosse oferecido a papinha também. Ou seja, que houvesse um equílibrio, o que eu considero fundamental. Nada de extremos e nada de suco, como ela mesmo disse. Tudo para que a criança aproveite ao máximo os sabores, as texturas da fruta. Para matar a sede, água. LEMBRANDO que até os 6 meses nada de chá, água, suco (suco somente com 2 anos vai....). Muito peito, muito leite da mãe para proteger a criança de ficar doente (tive que entrar com complemento aos 5 meses, mas ainda bem que ele não largou o peito. Continuamos firmes e fortes nesse elo, mas dei o complemento de boa por recomendação da médica porque o peso dele estacionou brutalmente e eu confio 100% na médica que cuida dos filhos. Melhor: que os recebeu quando vieram ao mundo, respeitando todas as minhas decisões estipuladas no plano de parto).
Pois bem, a técnica conhecida como Baby Led Weaning (BLW), incentiva a autonomia do bebê durante as refeições e tem conquistado cada vez mais adeptos e foi criado pela britânica Gill Rapley, consultora em saúde e autora do livro baby-led weaning: Helping your baby to love good food (Baby -led weaning: ajudando seu bebê a amar a boa comida).

Pois bem, a primeira fruta que ele comeu segurando na mão mesmo foi a banana. Estávamos no supermercado eu e ele, peguei uma banana e pronto: ele se lambuzou como nunca, sujou a roupa como nunca e eu, feliz da vida, por estar fazendo a coisa certa, ou seja, deixando ele ser criança e aproveitar ao máximo os benefícios da fruta.
Logicamente que também ofereço a sopinha com vários legumes (tudo fresco, não faço mais nada congelado), mas com os pedacinhos e ele curte. Fico de olho, engasgos podem acontecer até com a amamentação então, é sempre bom ficar de olho.
Os dias e noites tem sido de muita lambança aqui em casa. Glorinha está vendo o irmãzinho comer frutas e legumes cozidinhos em pedacinhos e também pede. os dois se sujam, sujam a cozinha inteira, mas é isso que eu quero. Eu quero sujeira, eu quero que vivam essa fase que passe rápido (vale aqui lembrar a escolinha que escolinha que escolhi para a Glorinha: nada de salas fechadas, sem área verde, onde a criança segue um padrão de rotina, sem afeto, mas sim um local onde ela brinca, se suja, chega em casa feliz , cansada, curtindo os momentos que não voltam mais. E não tenho essa neura de colocar roupa de sujar para ir a escolinha. faço questão que ela vá com roupas normais, com vestidinhos que usaria para ir a uma festinha...se bem que longe de mim minha filha ser uma peruazinha. Não aceita usar laços, nem colocar brinco, nem nada. Livre, mas já deixo ela, de vez em quando, escolher a roupa e ela fica orgulhosa dessa independência!)
Alias, a escolinha começará a ter aulas de culinária. Achei o máximo: tudo para a criança aprender desde cedo a ser autônoma, a se virar que é o que eu prezo também na educação dos meus filhos: AUTONOMIA!
Você pode ler mais sobre o ingresso dela na escolinha AQUI.
E vocês, como tem sido por aí?
Vale a pena ler esse artigo e assistir ao vídeo complementar quase ao final do artigo e aprender sempre um pouco mais.



sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Os papéis que assumimos e que nos consumimos por Fernanda Oliveira

Ser mulher, estar mulher, ser mãe, amante.... O tempo passa, séculos, décadas passam e a mulher continua em sua luta, muito mais interna do que externa, em busca do seu lugar ao Mundo, principalmente após tornar-se mãe. Quem sou eu agora? O que faço? Onde encontro aquela que era eu antes de me tornar mãe? Antes do meu coração não ser só mais meu, mas dividido? Nesse excelente artigo, Fernanda Oliveira, fala um pouco disso e um pouco mais.
Aproveitem!
P.S: Perguntas, questionamentos etc podem ser enviados ao email borntobemother@gmail.com que enviaremos a Fernanda e seu nome permanecerá em segredo.
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Os papéis que assumimos e que nos consumimos!
por Fernanda Oliveira
A mulher, em vários níveis, pode assumir, se assim o desejar, um dos maiores papéis da sua vida, ser mãe. Quando nos tornamos mães, naquele instante em que temos em nossos braços um ser indefeso, que nos remete há vários lugares, inclusive de poder, porque a partir daquele momento, só você pode e provavelmente será necessário assumir o cuidado, o manejo, a construção de uma nova vida. A mulher passa a este lugar de encontro e fusão, entre ela e o bebê chamado de puerpério, marcado pelo aleitamento e pelo retorno à menstruação.
São momentos de muita turbulência, aprendizado, frustrações, medos, amor que transborda e que ficamos neste lugar que geralmente é nosso e do bebê. Por sinal, muito importante para o bebê porque ele vai ter no mundo uma referência e a partir daí construir o seu referencial de tudo.
Quero falar com vocês sobre o pós puerpério, sobre o que acontece depois, sobre retornarmos e nos voltarmos aos outros papéis, de mulher, de esposa, de amiga, de profissional. Porque temos que nos lembrar que este período passa e tem que passar, porque seremos mães para sempre, mas ao mesmo tempo, não nesse nível de relação com os nossos filhos, eles vão crescer, vão criar sua identidade e a partir daí as escolhas deixarão de ser nossas, enquanto mães.
Aparece na clínica, algumas vezes, a dificuldade de retorno aos outros papéis, e o mais falado é o de esposa, de amante, de companheira. A mãe toma a mulher de uma certa maneira que o companheiro fica de lado, o sexo fica de lado e o desejo pelo outro também. A mãe acaba investindo toda a sua energia na maternidade, não sobrando pra ninguém, muitas vezes nem pra ela mesma.
Qual a consequência disso? Em algum lugar, dentro dela mesmo, ser mãe não é suficiente, principalmente quando ela entra em contato com o desenvolvimento e a independência dos filhos. A pergunta que não quer calar. Como? Se a maternidade nos desgasta, nos detona e nos consome? Fica aí a dica de pensarmos que tudo é uma escolha, escolhemos nossos papéis e o investimento de energia que dedicamos a cada um. A questão é trabalharmos essas questões e levantarmos a cabeça pra olhar para o lado, será que posso deixar o meu filho com um parente, com uma amiga, na escolinha e cuidar de mim e ficar a sós com o meu companheiro? Será que consigo sair deste papel e transitar pelos outros? Sem culpa?
Uma mãe com a qual tenho contato percebendo esta necessidade de ser não somente mãe, deixa os filhos em casa com o marido e sai sozinha pra comer, para passear e relata que ela divide com o pai a responsabilidade dos cuidados com os filhos. Sendo que esta também é a dificuldade de algumas mães, de dividir com o seu companheiro as responsabilidades com os filhos, numa posição onipotente que só ela sabe o que a criança precisa, passando inclusive sobre si mesma e não se permitindo ser cuidada e acolhida.
É um exercício diário de entrar em contato com todas as possibilidades que temos na vida e lembrarmos que sim, nós escolhemos.
Para Lacan a mulher é tida como o poder, já o homem já vem pronto, ou seja, seus papéis, sua posição... A mulher não e por essa, entre outras razões, é mais difícil: somos tudo e não somos nada, tudo ao mesmo tempo agora.
Simone de Beauvoir exemplificou bem ao afirmar “que não se nasce mulher, torna-se mulher.” Ou seja, a "mulher não tem um destino biológico, ela é formada dentro de uma cultura que define qual o seu papel no seio da sociedade. As mulheres, durante muito tempo, ficaram aprisionadas ao papel de mãe e esposa, sendo a outra opção o convento. Porém, a própria Simone rompe com esse destino feminino e faz de sua vida algo completamente diferente do esperado para uma mulher." (Cardoso, Bia em Blogueiras Feministas).
Acredito então que a tarefa de tornamos mães, mulheres, esposas seja uma construção diária, mas é de extrema importância que nesse emaranhado de papéis e funções, não deixamos de ter e lutar por nossa singularidade: o que queremos, como queremos e o que fazer para chegar até lá.
 Boa sorte!
Boas descobertas e encontros!

Fernanda é psicóloga clínica na abordagem da Psicanálise Lacaniana (CRP: 06/117419), formada pela Unicastelo. Mineira, do Vale do Jequitinhonha, reside em São Carlos há 20 anos, de uma família grande de 7 irmãos. Pisciana, 34 anos mãe de uma pequena de 3 anos e meio que procura criar para ser feliz. Adepta da criação com apego, a favor do parto natural e da amamentação em livre demanda. À favor de ser mãe, na possibilidade de ser a melhor que consigamos ser. Como ela próprio diz: “sem neura e sem crise (risos!) porque o negócio doido é a dosagem, uai!”
Decidiu estudar psicologia para se entender e entender o mundo e porque acredita no poder de sermos protagonistas de nossas vidas.
Atende crianças, adultos, individual, grupo, familiar e de casal na Rua Paulino Botelho de Abreu Sampaio, 1040 (Rua da Santa Casa, 3 quarteirões para baixo, sentido USP) na Clínica 
Rossiti.  Telefones de contato: (16) 99188-3487/ 98819-7068 
email: psico.fernandaoliveira@gmail.com