Ser mulher, estar mulher, ser mãe, amante.... O tempo passa, séculos, décadas passam e a mulher continua em sua luta, muito mais interna do que externa, em busca do seu lugar ao Mundo, principalmente após tornar-se mãe. Quem sou eu agora? O que faço? Onde encontro aquela que era eu antes de me tornar mãe? Antes do meu coração não ser só mais meu, mas dividido? Nesse excelente artigo, Fernanda Oliveira, fala um pouco disso e um pouco mais.
Aproveitem!
P.S: Perguntas, questionamentos etc podem ser enviados ao email borntobemother@gmail.com que enviaremos a Fernanda e seu nome permanecerá em segredo.
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P.S: Perguntas, questionamentos etc podem ser enviados ao email borntobemother@gmail.com que enviaremos a Fernanda e seu nome permanecerá em segredo.
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Os papéis que assumimos e que nos consumimos!
por Fernanda Oliveira
A mulher, em vários níveis, pode
assumir, se assim o desejar, um dos maiores papéis da sua vida, ser mãe. Quando
nos tornamos mães, naquele instante em que temos em nossos braços um ser
indefeso, que nos remete há vários lugares, inclusive de poder, porque a partir
daquele momento, só você pode e provavelmente será necessário assumir o
cuidado, o manejo, a construção de uma nova vida. A mulher passa a este lugar
de encontro e fusão, entre ela e o bebê chamado de puerpério, marcado pelo
aleitamento e pelo retorno à menstruação.
São momentos de muita turbulência,
aprendizado, frustrações, medos, amor que transborda e que ficamos neste lugar
que geralmente é nosso e do bebê. Por sinal, muito importante para o bebê
porque ele vai ter no mundo uma referência e a partir daí construir o seu
referencial de tudo.
Quero falar com vocês sobre o pós
puerpério, sobre o que acontece depois, sobre retornarmos e nos voltarmos aos
outros papéis, de mulher, de esposa, de amiga, de profissional. Porque temos
que nos lembrar que este período passa e tem que passar, porque seremos mães
para sempre, mas ao mesmo tempo, não nesse nível de relação com os nossos
filhos, eles vão crescer, vão criar sua identidade e a partir daí as escolhas
deixarão de ser nossas, enquanto mães.
Aparece na clínica, algumas vezes, a
dificuldade de retorno aos outros papéis, e o mais falado é o de esposa, de
amante, de companheira. A mãe toma a mulher de uma certa maneira que o
companheiro fica de lado, o sexo fica de lado e o desejo pelo outro também. A
mãe acaba investindo toda a sua energia na maternidade, não sobrando pra
ninguém, muitas vezes nem pra ela mesma.
Qual a consequência disso? Em algum
lugar, dentro dela mesmo, ser mãe não é suficiente, principalmente quando ela
entra em contato com o desenvolvimento e a independência dos filhos. A pergunta
que não quer calar. Como? Se a maternidade nos desgasta, nos detona e nos
consome? Fica aí a dica de pensarmos que tudo é uma escolha, escolhemos nossos
papéis e o investimento de energia que dedicamos a cada um. A questão é
trabalharmos essas questões e levantarmos a cabeça pra olhar para o lado, será
que posso deixar o meu filho com um parente, com uma amiga, na escolinha e
cuidar de mim e ficar a sós com o meu companheiro? Será que consigo sair deste
papel e transitar pelos outros? Sem culpa?
Uma mãe com a qual tenho contato
percebendo esta necessidade de ser não somente mãe, deixa os filhos em casa com
o marido e sai sozinha pra comer, para passear e relata que ela divide com o
pai a responsabilidade dos cuidados com os filhos. Sendo que esta também é a
dificuldade de algumas mães, de dividir com o seu companheiro as
responsabilidades com os filhos, numa posição onipotente que só ela sabe o que
a criança precisa, passando inclusive sobre si mesma e não se permitindo ser
cuidada e acolhida.
É um exercício diário de entrar em
contato com todas as possibilidades que temos na vida e lembrarmos que sim, nós
escolhemos.
Para Lacan a mulher é tida como o poder,
já o homem já vem pronto, ou seja, seus papéis, sua posição... A mulher não e
por essa, entre outras razões, é mais difícil: somos tudo e não somos nada,
tudo ao mesmo tempo agora.
Simone de Beauvoir exemplificou bem
ao afirmar “que não se nasce mulher, torna-se mulher.” Ou seja, a "mulher não tem um destino biológico, ela é formada dentro de uma cultura que define qual o seu papel no seio da sociedade. As mulheres, durante muito tempo, ficaram aprisionadas ao papel de mãe e esposa, sendo a outra opção o convento. Porém, a própria Simone rompe com esse destino feminino e faz de sua vida algo completamente diferente do esperado para uma mulher." (Cardoso, Bia em Blogueiras Feministas).
Acredito então que a tarefa de
tornamos mães, mulheres, esposas seja uma construção diária, mas é de extrema
importância que nesse emaranhado de papéis e funções, não deixamos de ter
e lutar por nossa singularidade: o que queremos, como queremos e o que fazer
para chegar até lá.
Boa sorte!
Boas descobertas e encontros!
Fernanda é psicóloga clínica na abordagem da Psicanálise Lacaniana (CRP: 06/117419), formada pela Unicastelo. Mineira, do Vale do Jequitinhonha, reside em São Carlos há 20 anos, de uma família grande de 7 irmãos. Pisciana, 34 anos mãe de uma pequena de 3 anos e meio que procura criar para ser feliz. Adepta da criação com apego, a favor do parto natural e da amamentação em livre demanda. À favor de ser mãe, na possibilidade de ser a melhor que consigamos ser. Como ela próprio diz: “sem neura e sem crise (risos!) porque o negócio doido é a dosagem, uai!”
Decidiu estudar psicologia para se entender e entender o mundo e porque acredita no poder de sermos protagonistas de nossas vidas.
Atende crianças, adultos, individual, grupo, familiar e de casal na Rua Paulino Botelho de Abreu Sampaio, 1040 (Rua da Santa Casa, 3 quarteirões para baixo, sentido USP) na Clínica
Rossiti. Telefones de contato: (16) 99188-3487/ 98819-7068 email: psico.fernandaoliveira@gmail.com
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