sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Os papéis que assumimos e que nos consumimos por Fernanda Oliveira

Ser mulher, estar mulher, ser mãe, amante.... O tempo passa, séculos, décadas passam e a mulher continua em sua luta, muito mais interna do que externa, em busca do seu lugar ao Mundo, principalmente após tornar-se mãe. Quem sou eu agora? O que faço? Onde encontro aquela que era eu antes de me tornar mãe? Antes do meu coração não ser só mais meu, mas dividido? Nesse excelente artigo, Fernanda Oliveira, fala um pouco disso e um pouco mais.
Aproveitem!
P.S: Perguntas, questionamentos etc podem ser enviados ao email borntobemother@gmail.com que enviaremos a Fernanda e seu nome permanecerá em segredo.
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Os papéis que assumimos e que nos consumimos!
por Fernanda Oliveira
A mulher, em vários níveis, pode assumir, se assim o desejar, um dos maiores papéis da sua vida, ser mãe. Quando nos tornamos mães, naquele instante em que temos em nossos braços um ser indefeso, que nos remete há vários lugares, inclusive de poder, porque a partir daquele momento, só você pode e provavelmente será necessário assumir o cuidado, o manejo, a construção de uma nova vida. A mulher passa a este lugar de encontro e fusão, entre ela e o bebê chamado de puerpério, marcado pelo aleitamento e pelo retorno à menstruação.
São momentos de muita turbulência, aprendizado, frustrações, medos, amor que transborda e que ficamos neste lugar que geralmente é nosso e do bebê. Por sinal, muito importante para o bebê porque ele vai ter no mundo uma referência e a partir daí construir o seu referencial de tudo.
Quero falar com vocês sobre o pós puerpério, sobre o que acontece depois, sobre retornarmos e nos voltarmos aos outros papéis, de mulher, de esposa, de amiga, de profissional. Porque temos que nos lembrar que este período passa e tem que passar, porque seremos mães para sempre, mas ao mesmo tempo, não nesse nível de relação com os nossos filhos, eles vão crescer, vão criar sua identidade e a partir daí as escolhas deixarão de ser nossas, enquanto mães.
Aparece na clínica, algumas vezes, a dificuldade de retorno aos outros papéis, e o mais falado é o de esposa, de amante, de companheira. A mãe toma a mulher de uma certa maneira que o companheiro fica de lado, o sexo fica de lado e o desejo pelo outro também. A mãe acaba investindo toda a sua energia na maternidade, não sobrando pra ninguém, muitas vezes nem pra ela mesma.
Qual a consequência disso? Em algum lugar, dentro dela mesmo, ser mãe não é suficiente, principalmente quando ela entra em contato com o desenvolvimento e a independência dos filhos. A pergunta que não quer calar. Como? Se a maternidade nos desgasta, nos detona e nos consome? Fica aí a dica de pensarmos que tudo é uma escolha, escolhemos nossos papéis e o investimento de energia que dedicamos a cada um. A questão é trabalharmos essas questões e levantarmos a cabeça pra olhar para o lado, será que posso deixar o meu filho com um parente, com uma amiga, na escolinha e cuidar de mim e ficar a sós com o meu companheiro? Será que consigo sair deste papel e transitar pelos outros? Sem culpa?
Uma mãe com a qual tenho contato percebendo esta necessidade de ser não somente mãe, deixa os filhos em casa com o marido e sai sozinha pra comer, para passear e relata que ela divide com o pai a responsabilidade dos cuidados com os filhos. Sendo que esta também é a dificuldade de algumas mães, de dividir com o seu companheiro as responsabilidades com os filhos, numa posição onipotente que só ela sabe o que a criança precisa, passando inclusive sobre si mesma e não se permitindo ser cuidada e acolhida.
É um exercício diário de entrar em contato com todas as possibilidades que temos na vida e lembrarmos que sim, nós escolhemos.
Para Lacan a mulher é tida como o poder, já o homem já vem pronto, ou seja, seus papéis, sua posição... A mulher não e por essa, entre outras razões, é mais difícil: somos tudo e não somos nada, tudo ao mesmo tempo agora.
Simone de Beauvoir exemplificou bem ao afirmar “que não se nasce mulher, torna-se mulher.” Ou seja, a "mulher não tem um destino biológico, ela é formada dentro de uma cultura que define qual o seu papel no seio da sociedade. As mulheres, durante muito tempo, ficaram aprisionadas ao papel de mãe e esposa, sendo a outra opção o convento. Porém, a própria Simone rompe com esse destino feminino e faz de sua vida algo completamente diferente do esperado para uma mulher." (Cardoso, Bia em Blogueiras Feministas).
Acredito então que a tarefa de tornamos mães, mulheres, esposas seja uma construção diária, mas é de extrema importância que nesse emaranhado de papéis e funções, não deixamos de ter e lutar por nossa singularidade: o que queremos, como queremos e o que fazer para chegar até lá.
 Boa sorte!
Boas descobertas e encontros!

Fernanda é psicóloga clínica na abordagem da Psicanálise Lacaniana (CRP: 06/117419), formada pela Unicastelo. Mineira, do Vale do Jequitinhonha, reside em São Carlos há 20 anos, de uma família grande de 7 irmãos. Pisciana, 34 anos mãe de uma pequena de 3 anos e meio que procura criar para ser feliz. Adepta da criação com apego, a favor do parto natural e da amamentação em livre demanda. À favor de ser mãe, na possibilidade de ser a melhor que consigamos ser. Como ela próprio diz: “sem neura e sem crise (risos!) porque o negócio doido é a dosagem, uai!”
Decidiu estudar psicologia para se entender e entender o mundo e porque acredita no poder de sermos protagonistas de nossas vidas.
Atende crianças, adultos, individual, grupo, familiar e de casal na Rua Paulino Botelho de Abreu Sampaio, 1040 (Rua da Santa Casa, 3 quarteirões para baixo, sentido USP) na Clínica 
Rossiti.  Telefones de contato: (16) 99188-3487/ 98819-7068 
email: psico.fernandaoliveira@gmail.com


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