sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Porque hoje é meu aniversário....


Hoje é dia de lembranças....
eu e Tiago na casa dos meus tios: melhores momentos da infância!

Alguns dos melhores momentos da minha vida foram passados ai, na casa da minha tia Lúcia e do meu Tio Nelio.
Quantos bolinhos de chuva, pulos na piscina, brincando com a Tusca, passeando de carro.....
A família inteira reunida todo santo sábado para tomar café e se divertir, sempre todos bem-recebidos pelos meus tios que sempre ajudaram e ampararam tantas pessoas com carinho, com a casa deles e com outras coisas também.
Aí na foto acima está meu primo Tiago....primos que são irmãos. Que viveram aqui comigo, de quem eu cuidei, mesmo novinha. Felipe e Bruno eram meus filhotinhos. Eu, uma menina, que já tinha que ter tanta maturidade e ai acho que desbundou um pouco quando ficou mais velha, mas ainda bem que encontrou um alemão cujo amor sempre foi tão grande que nunca desistiu de mim.
E me levou para ver o Mundo, as pessoas, me levou para ver outros povos, outras culturas, outros pensamentos e filosofias provando a mim o quanto eu ainda tinha para aprender e perceber. Que o mundo é maior do que roupas de grife, posses, pose, que o mundo é maior do que o nosso umbigo, que é preciso ampliar os horizontes e me fez mãe, quando muitos achavam que nunca eu poderia ser mãe. Mas eu fui. Fui e sou mãe duas vezes. Fui na raça. Horas e horas de trabalho de parto. Longos dias. Longas noites, mas fui e faria tudo de novo, talvez com um médico diferente, mas faria. 
Fui mulher para aceitar minhas cesáreas. E dar a volta por cima e depois de uma semana estar na ativa, de volta a vida.
37 anos se passaram. 
Eu aqui, depois ter passado por locais e lugares e por pessoas que me levaram para os locais mais baixos e tristes, que consegui me afundar dentro de mim mesmo, consegui renascer.
Alguns dizem que a maternidade muda. Mas acho essa afirmação um pouco machista e impositiva: a gente é que muda. Não acredito que há mulheres que mudam, há mulheres que se adaptam. Eu mudei. 
Foi realmente um divisor de elos na minha vida. A dificuldade emocional de ficar grávida, de aceitar que tudo poderia ser diferente do que vivi, que daria conta. O medo, o pensamento que eu teria que aceitar que seríamos mais nós duas, mais do que nós três. Pensar que meu marido não seria só mais meu. O marido que me fazia café da manhã todos as manhãs quando estava por aqui, cujos olhos brilhavam ao me ver. Eu era única (continua sendo!), mas de um jeito diferente. Descobri que devo ser única para mim!
Então, aos 35 anos lá estava eu, grávida da Glorinha. Um nome forte, a certeza que não poderia ser outro nome além desse. Glória cheia de graça, de formosura, de luz. E de energia!
Glória que me fez abandonar hábitos, pessoas que me faziam mal, muito mal porque eu deixava que assim o fizessem. Gloria que me ensinou a rir todos os dias, ler tudo sobre maternidade e descobrir que nada daquilo me interessava além de ter a minha maneira de educar, de amar, que meu instinto de mãe estava lá. 
Isso parece sofrimento?! Vânia e eu: você foi essencial!

Na verdade, essa mãe estava se formando em cada contração na Casa de Saúde. Eu, leoa, tentando parir, sem saber que tinha aquela força dentro de mim. Foram as contrações mais importantes que tive. Não que já tinha sentido isso antes, nada se iguala, mas passar por todo esse processo de mulher selvagem me mostrou do que sou capaz.
6 meses depois, lá veio a confirmação da gravidez do Lorenzo. Um teste de farmácia que mostrava uma linha forte e outra mais ou menos, mas que eu tinha a certeza que sim, que estava grávida. Fiquei grávida lá na Alemanha. Um menino que foi concebido lá, no País do pai: não poderia ser mais perfeito. Não, não poderia!
A caminho....o Ben que depois virou Lorenzo!
Desespero define.
Como dar conta de duas crianças?
Ah, quantos pensamentos me invadiram.
Sozinha eu decidi que o teria, que levaria até o fim. Já era meu, já fazia parte de mim. 
E assim fomos seguindo.
Foto by Eloisa Souza.... meu primeiro ensaio de gestante...e dela também... Por isso será sempre inesquecível. fotógrafa de produtos que decidiu se aventurar por esse novo mundo....e deu certo! Muito certo!
Nós três: eu, Glorinha, Lorenzo e os locatários....
Dudu, Preta, a casa... deixada na mão no meio desse turbilhão por alguém que confiávamos tanto, mas a gente tem que se bastar. Simples assim.
Calor, um bebê gigante no meu ventre, Glorinha que era um bebezinho. Mas lá íamos nós ao clube, ao SESC, onde quer que fosse... E lembro dela sentadinha no carrinho, quietinha, me observando fazendo a limpeza na casa ( coisa que com o Lorenzo é impossível. Colo, colo, e mais colo).
E aí chegou a grande hora e também fiz de tudo. Ficamos em casa até o último minuto, contratamos doula, enfermeira para fazer exame de toque, passei também dias entre risadas, choro, felicidade e uma certeza quase que palpável que ele não desceria também e que eu teria que aprender algum dia que eu não posso controlar tudo e todos (confesso que ainda não aprendi. Talvez com o terceiro!). 
Então, ocitocina na veia já na Casa de Saúde, dor que me rasgava, chá de canela ( esse sabor que nunca sairá da minha mente) e de novo, eu repito, eu faria tudo de novo,  mas não teria usado ocitocina, nem ficado tanto tempo tentando provar que eu conseguiria, que mostraria o tal do dedo ao sistema cesarista, mas ah a vida, minhas queridas... a vida é assim, você planeja tudo, mas ter a humildade de aceitar e digerir que não temos poder sobre nada, nem ninguém. Aí a gente sai do processo de humanização e cai nas armadilhas do provar aos outros que somos capazes e tudo se torna desumano, muito para te falar a verdade.
Chegando ao ponto de te fazerem acreditar que você não foi até o fim DE VERDADE e só colocam fotos na fan page de quem teve parto natural: uma total inversão de valores e desmerecimento àquelas que realmente fizeram de tudo e um pouco mais para darem a luz.
Hoje eu entendo que dei a luz SIM. E foram duas vezes que senti o poder de passar por dois processos e ter a minha autonomia de decidir que aquilo tudo já era demais. 
Exame de toque: 9 centímetros, mas um edema que não permitia que Lorenzo descesse. Bolsa estourou, achamos que era ele que estava saindo, mas não... era a bolsa. 
Cansada, doída, exausta, as enfermeiras me embalavam, me seguravam pelos braços enquanto o médico dito humanizado entrava pela porta, sem olhar nos meus olhos, sem me dizer "minha querida, você foi forte, fez tudo e agora é hora de prosseguir."
O que ele fez foi apressar a equipe porque, oras, muitas mulheres estavam esperando por ele no consultório para falar sobre parto humanizado, mas de humanizado o que ele sabe?
Absolutamente nada!
Só me lembro de uma enfermeira que ousou dizer ao todo poderoso que eu mal conseguia andar de dor de contração, de ocitocina correndo nas veias, de sangue escorrendo pelas pernas, de cansaço.... Tudo tão errado. Eu só queria um abraço e elas, as mulheres, me abraçaram porque estavam lá durante todo o processo vendo (e também sentindo) minha dor e por essa e outras razões que ainda acredito que mulheres podem e devem ser parceiras.
Me levaram a sala de cirurgia e qual era a minha vergonha de sangue sujando tudo.... mas Deus colocou suas mãos no anestesista que foi de uma delicadeza tão, mais extrema e de uma rapidez power para me livrar de toda aquela dor física que eu, mesmo sedada, desfalecida, olhei para ele e disse: "como você é educado! Obrigada, obrigada, obrigada!"
E lá estava eu, revivendo a mesma situação...

E Lorenzo veio, mas não, não veio direto para mim. Foi direto para a incubadora. E também nos fazem acreditar que o pacote todo inclui ir direito para o peito....Quanta bobagem nos fazem acreditar e a gente engole sem ao menos pensar, refletir. Eu fiz o mesmo, mas, ao mesmo tempo, eu sempre acreditei e confiei demais na médica pediatra que recebeu a Glorinha e o Lorenzo. Então, minha querida, ele não poderia ir direito ao seu peito. Sorry, ces´t la vie, keep walking, pÔ!
Mas logo, ele estava lá comigo e com o Dirk no quarto. Vânia, a nossa doula, ficou com a gente o tempo todo. Foram momentos que eu nunca vou esquecer. Aquele serzinho chegando ao quarto. Eu e ele.
E então, Dirk chegando para me ajudar a alimentá-lo. Dirk exausto, mas firme e forte pegando meu peito e ensinando aquele serzinho a sugar o meu leite.
Patricia: gratidão eterna!
E como esquecer de você, Patricia, que cuidou da minha filha: que a alimentou, deu banho, dormiu com ela.... o que teria sido de mim sem você? Que me fez relembrar como era dar banho em bebê, que me disse que tinha que limpar por debaixo do "saco" também...
Você, mil vezes você.
Quem sabe um dia...ou não!
E hoje cá estou, completando 37 anos.
Uma vida intensa, de muitas loucuras, de muitos erros, acertos também.
De pessoas certas e muitas erradas também. 
De amores cão, de paixões fulminantes que me fulminaram, de um cara que não desistiu de mim assim como eu não desisti dele.
Por que eu contei toda essa história?
Porque eu fui para tantos lugares, até em ashram na Índia para me ver por dentro, me curar, porque eu às vezes queria voltar ao útero da minha mãe (?), MAS foi aqui, com meus filhos que tudo mudou e mudou de forma drástica.
E, finalmente, apesar de exausta, sou feliz.

'Porque "foi sempre assim, não foi, Tempo? Eu lá adiante e tu cá atrás. Eu envelhecia rápido enquanto meu corpo deveria ainda estar crescendo, adultescia mais do que os adultos ao meu redor, aprendia teus mais duros ensinamentos antes mesmo da vida ter me alfabetizado como deveria. Depois, mais descompasso, na tentativa de encontrar-te de volta, no elementar, no básico, tu já havias me ultrapassado. Eu em busca do tempo de ser cuidada, e tu já não me davas mais este direito. Apontavas-me de lá teu dedo implacável da auto-suficiência, enquanto eu era uma menina que não sabia o que fazer de mim. 
Nunca entendi as tuas certezas, Tempo, nem o tempo das certezas dos outros. Sempre estive muito longe - ou na instantaneidade do óbvio, ou na intransponibilidade da ausência. Sempre eu, atrelada à aanacronia atávica. Sempre eu, na inadequação cronológica. Sempre eu, muito cedo ou muito tarde. Sempre eu, intempestiva. 
Por isso venho a ti, Tempo, cansada de perseguir-te. Te peço que me ensines teu ofício, este em que as horas não doem, em que os instantes vivem e florescem sem peso ou bruma, em que os momentos às vezes sobrepõem os anos, mas em que os anos passam nos fortalecendo o andar. Pega-me no colo, Tempo, mostra-me teu rosto, faz-me entender que tu não queres fugir e que eu não posso apreender-te. Dá-me a tua mão, Tempo, leva-me a teu lado. Mostra-me de novo e de novo e de novo que não há para onde ir, a não ser estar aqui e agora, junto de ti." (Patrícia "Ticcia" Antoniete)



FELIZ ANIVERSÁRIO PARA MIM, PARA A GENTE!



Pelos amores felizes, pelos dias melhores, pelas amarras desfeitas, agora e para sempre, amém!




Nenhum comentário:

Postar um comentário