Digo que dessa vez minha terapeuta, Simone Ferreira Domingues, foi quem me escolheu, me acolheu.
Tem sido uma (re)descoberta de vida. Na verdade, a maternidade tem me mostrado o quanto sou responsável por minhas emoções e quanto meus filhos precisam que eu me cuide, tanto espiritualmente, quanto psicologicamente e fisicamente.
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como me sinto na terapia: na frente de bolhas de sabão... |
Para muitos ainda, a terapia é ainda carregada de preconceitos... coisa de gente louca. Se assim o for, como é bom poder ser louca e ter uma pessoa que nos ouve, sem nos criticar, sem nos julgar. Apenas de forma serena e clara nos mostra que há um manto por cima de cada palavra. Dói retirar esse manto, machuca, às vezes chegando a causar morte súbita para depois se respirar como se tivéssemos por anos vivido em coma total e dentro de um rio, sem poder respirar: peixe quase morto, morto-vivo... que vai levando a vida dentro de um espaço quadrado e egocêntrico...
Que responsabilidade comigo ir até lá toda semana e me desconcertar, me reestruturar, provar do meu próprio vinho e veneno por assim dizer.
Qual não foi minha surpresa quando, 10 minutos antes de terminamos a sessão, ela falou: "Leia esse texto que eu seguro o Lorenzo" (sim, tem gente que pode ser extremamente delicada e receber seu filhote. Isso , graças a Deus, acontece comigo na dentista, na terapia. Temos um caminho gigante a trilhar para mães com filhos pequenos serem recebidas em todos os lugares de braços abertos e com os choros, birras e tudo o mais que uma criança reserva!).
E eu li, reli, li de novo e lágrimas brotavam por dentro, por fora, mas pela primeira vez, com quase 37 anos, eu percebi que estava conseguindo ir alem, que sei onde quero chegar.
Cuidar de mim para cuidar dos meus filhos. Cuidar da minha criança interior e acreditar que posso ser o que eu quiser. Tem sido difícil, mas tenho saúde, tenho vontade de melhorar como mulher, ser humano, como mãe, esposa, dona de casa, profissional, blogueira. Mil projetos na minha vida que eu farei acontecer.
Então, aqui compartilho desse texto....
Quem se identificar, fica aqui meu coração!
VOCÊ PRECISA DE CORAGEM PARA ENXERGAR A CRIANÇA
Você precisa olhar para a criança, escutar o choro dela, escutar o que o choro quer dizer para você. Precisa compreender a criança, legitimar seus sentimentos, valorizar seus desejos e acolher seus medos. Você vai precisar conseguir fazer isso, olhar para a criança e aceita-la, sem críticas, sem ressalvas nem expectativas.
Vai precisar olhar para a criança e achá-la bonita, mesmo quando foi dito que ela era feia, acha-la inteligente mesmo quando disseram que não era, e ao fazerem isso, não pensaram nas marcas que deixariam em sua auto estima.
Vai precisar olhar para a criança e acha-la esperta, sabida, mesmo quando foi comparada com outras e disseram que as outras eram mais espertas, mais sabidas.
Você vai precisar olhar para a criança e dizer que não, ela não é tímida, bicho do mato, ou raivosa, nem ciumenta, nervosa ou mal educada, nem frágil, lenta ou rápida, nem acima ou abaixo da média; que isso tudo foram rótulos que soltaram sem pensar no mal que causariam para a criança.
Você vai precisar olhar para a criança e confiar nela, mesmo quando os pais disseram que ela não conseguiria, mesmo quando os professores duvidaram, mesmo quando todos desacreditaram, mexendo para sempre com sua auto confiança.
Você vai precisar ter coragem para olhar para a criança e compreender que as palmadas, as surras, os castigos físicos e psicológicos não fizeram nenhum bem. Mas deixaram humilhação, solidão e tristeza como herança.
Você vai precisar de muita coragem para olhar para a criança e enxerga-la sozinha, sem olhar atento, sem colo amoroso, sem beijo carinhoso, sem toque, sem sensações.
Vai precisar de muita coragem para olhar para a criança e enxergá-la assustada, com medo, com lágrimas, desejando um abraço e recebendo olhares bravos ou indiferentes.
Você vai precisar de muita força e muita coragem!
Pegue uma foto sua de quando era criança. Pois é desta criança que estou falando.
Estou falando da criança que você foi um dia!
Pode olhar para o espelho, e buscar dentro de você os resquícios da criança que você foi.
Da criança que não recebeu o que precisava, da criança que ainda hoje tem medo de pedir mais do que tem, da criança que até hoje tenta se contentar ou se conformar com o que recebe, como se isso fosse o máximo que a Vida pode oferecer para uma criança feia, pouco inteligente, tímida, raivosa, ciumenta, manipuladora.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2WCutyQ2mBLc8-dZiPZiX2_DAj-sVxFQprGwS3Qi2NgKZOTM0iRfm24reGFy2gRzoh5xSbZXeF1H6kWJ2fdIdxCQotFhClZ7MsPT4gPmGGOFPPaQT_9RAzLITWfsmyjDLJF_K1ueeglM8/s400/11218999_819113628164279_997840106401811544_n.jpg)
Você vai precisar de muita coragem para lembrar de verdade sobre algumas coisas do seu passado, da sua infância, da criança que você um dia foi.
Vai precisar ser forte, para conseguir lidar com a dura verdade de que grande parte do que você pensa sobre si mesmo, está ligado ao que os outros pensaram sobre você desde a infância.
Vai precisar ser muito forte, para descobrir que a maneira como você SE enxerga está relacionado a maneira como os outros o enxergaram. Vai precisar de muita coragem para legitimar seu sofrimento infantil e lidar com o medo de sentir raiva dos seus pais, dos seus tios, dos seus parentes, dos seus educadores.
Vai precisar de muita coragem para lidar com os sentimentos que experimentou e com a mágoa que descobrirá dentro de você, que tem raízes na infância.
Você vai precisar ser forte para olhar para a criança que você foi, e compreender que na infância foram lançadas as sementes dos seus medos atuais, da sua falta de jeito em se relacionar, das suas más escolhas na vida amorosa, da sua insegurança na vida profissional.
Você poderá descobrir que talvez também tenha sido na sua infância que lançaram as sementes da sua dificuldade em lidar com seus próprios filhos do jeito que você gostaria, do jeito que você racionalmente sabe que é o melhor jeito, mas que na prática parece inatingível.
Você precisa olhar para a criança que você foi.
Abraça-la, acarinha-la, dar para ela a compreensão que ninguém nunca foi capaz de dar.
Vai precisar dar colo para esta criança.Você vai precisar ser capaz disso, de fazer as pazes com a criança que você foi. Com a criança que ainda está dentro de você, e continua com medo de desafiar, de decepcionar, de magoar, de errar, e por isso não tenta, não ousa, não evolui, não cresce, não se liberta e não é feliz...
Se você conseguir olhar e enxergar a criança que você foi, em tudo que recebeu, mas também em tudo que faltou, talvez você consiga oferecer para ela aquilo que ainda falta, e talvez hoje, sua auto estima se fortaleça, para que a partir de hoje, você seja capaz de ousar, de seguir em frente, para que você seja capaz de amar.
Para que hoje, você seja capaz de estar com seu filho oferecendo para ele tudo aquilo que você mesmo não recebeu e precisava, evitando os erros que marcaram sua vida, mas o mais importante: conseguindo olhar verdadeiramente para seu filho e ser capaz de oferecer o que ELE precisa!
E ao ser capaz de oferecer o que seu filho realmente precisa, você finalmente estará sendo o pai ou a mãe que gostaria de ser.
Se você conseguir isso, talvez consiga pegar seu filho pela mão e chama-lo para brincar, junto com a criança que você foi um dia, mas que agora encontrou quem você é hoje.
E nesta absoluta e consciente integração, poderão juntos encontrar os caminhos para uma vida feliz.
Mas você vai precisar ler este texto mais uma vez, e ter a coragem de olhar para a criança que você foi e que ainda sussurra dentro de você, esperando apenas ser ouvida e desejando receber só um pouco de carinho...
(Texto de autoria de Luzinete R. C. Carvalho- Psicanalista )
P.S: convém dizer que este texto não serve para todo mundo! Só serve para quem sentir, intuir que a infância que viveu interfere, de alguma forma, em aspectos da vida atual. Se não serve para você, simplesmente ignore, mas saiba que ele pode servir para muitas pessoas, e merece respeito, tanto quanto as pessoas que estão tendo a coragem de olhar para a criança que foram, buscando respostas, buscando a redenção, para se sentirem livres e fortes, e então viverem a vida plena e feliz que merecem.
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